Ao contrário da Europa, Ásia e América do Norte, o uso do transporte público no Brasil se vincula à falta de dinheiro. Quem tem carro dificilmente troca o conforto e, sobretudo, a segurança do transporte individual pelo ônibus. Isso acontece pelo fato de os benefícios ofertados pelo transporte coletivo ainda não compensarem a mudança. Em Nova Iorque, Tóquio ou Paris, os deslocamentos levam menos tempo. Especificamente em Curitiba, os sistemas não convencem a deixar o carro em casa: são lentos e não oferecem segurança. Para mudar o panorama, cabe aos gestores municipais inverter a lógica de investimento: mais para ônibus e menos para carros.
Na avaliação do superintendente da Associação Nacional dos Transportes Públicos, Marcos Pimentel Bicalho, os gestores públicos temem encarar a pressão da sociedade caso deem preferência aos ônibus. "Existe muita resistência, porque os formadoras de opinião usam automóveis", afirma. Por esse motivo, a lógica equivocada na aplicação de recursos das prefeituras persiste. "O prefeito acredita que vai se sair bem se melhorar as condições para os carros, asfaltando as ruas ou ampliando as avenidas", opina o professor do Departamento de Transportes da UFPR, Garrone Reck.
Incentivo federal
Não existe cultura estadual e federal de incentivo ao transporte público, na avaliação de Bicalho. Durante a crise econômica, o governo federal baixou o IPI (Imposto sobre Produto Industrializado), multiplicando o número de carros nas ruas. Para Reck, a medida era necessária à época para manter a economia estável. Agora, no entanto, é o momento de "mudar a chave". "No curso normal da economia, não pode haver privilégio para a indústria automobilística. A infraestrutura deve ser pensada para privilegiar o transporte público, em todas as esferas", diz o professor da UFPR.
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