Depois de morar alguns meses nos Estados Unidos acompanhados do primeiro filho, de um ano e dez meses, a curitibana Renata* e o marido retornaram ao Brasil seduzidos pela possibilidade de ter o segundo em território americano. Confirmada a espera de Alice, o casal tratou de buscar ajuda para viabilizar o plano. Foi assim que conheceram a clínica Ser Mamãe em Miami, agência especializada em realizar partos de brasileiras nos Estados Unidos.
De Miami, Renata explicou que a principal motivação do casal para cruzar o oceano para o parto foi garantir que as portas do Tio Sam estejam sempre abertas para a filha – Alice nasceu há algumas semanas cidadã americana, conforme garante a Constituição a todos os nascidos no país.
Investimento alto para nascer em Miami
Para que a filha tivesse o passaporte americano, Renata e o marido, que atua no mercado imobiliário, investiram alto – cerca de US$ 25 mil (ou R$ 90 mil, com a cotação do dólar em R$ 3,39 mais impostos).
O montante cobre a assistência médica fornecida pela Ser Mamãe em Miami e parte da estadia – a gestante tem de viajar cerca de dois meses antes do parto e precisa permanecer nos EUA pelo menos mais dois meses por conta da vacinação e documentos do bebê. Eles garantem que valeu cada centavo.
Riscos
Embora não seja ilegal oferecer serviços de assistência ao parto como os do Ser mamãe em Miami, o risco de a Imigração barrar a entrada da gestante no país existe.
Especialistas em direito de imigração explicam que o agente imigratório tem autoridade para impedir a entrada de turistas se julgar que a função do visto de turista esteja sendo violada.
Segundo informações do Itamaraty, cerca de 1,5 mil filhos de brasileiros nasceram em Miami em 2015. Em 2012, foram 1,9 mil. A cidade norte-americana está desde 2011 entre as cinco fora do Brasil que mais registram nascimentos de filhos de brasileiros.
“Quisemos abrir as portas do país para ela. É um país superdesenvolvido, que tem qualidade de vida e respeito ao cidadão. E, ao contrário do Brasil, aqui tem estabilidade jurídica, política e econômica. Ela vai carregar a cidadania para sempre, pode voltar para o Brasil e lá na frente decidir onde vai morar, estudar, trabalhar”, explicou.
O casal ressaltou que a crise enfrentada pelo Brasil não foi fator determinante para a decisão, mas a perspectiva de um futuro mais promissor e seguro fora do país, sim. Renata retorna ao Brasil com os filhos e o marido nos próximos meses, mas planeja voltar para os EUA num futuro próximo.
A mesma expectativa em relação ao futuro da prole foi o que levou Fernanda*, de Goiás, a contratar o Ser mamãe em Miami para ter o segundo filho em solo americano. “A cultura norte-americana me fascina e creio que meus filhos poderão ser pessoas melhores por conviver nesse ambiente”, afirma.
Já a paulista Cintia* teve seu primeiro bebê em Miami no fim de março. Para ela, a experiência foi fortalecedora. “Posso dizer que sou uma pessoa vencedora, porque consegui conquistar o meu objetivo, que é de proporcionar, por meio da cidadania americana, um futuro melhor para a minha filha.”
Como funciona
O médico Wladimir Lorentz explica que os serviços da clínica são contratados quando a paciente já está acomodada em Miami. Lá, o atendimento é todo realizado pela rede privada de saúde. Quem realiza o parto das gestantes brasileiras são obstetras americanos. Todos os profissionais, explica Lorentz, falam também espanhol e português, para garantir uma comunicação mais eficaz entre pacientes e equipe médica.
Em um ano, mais de 100 brasileiras aderiram
Ter filhos em país estrangeiro não é exatamente uma novidade, mas nos últimos anos serviços como o Ser Mamãe em Miami têm ampliado o acesso a esse tipo de assistência. Desde que foi lançado, há um ano, o Ser Mamãe já fez o parto de 40 brasileiras; outras 20 gestantes já estão em Miami aguardando o parto e, no Brasil, cerca de 70 estão com a viagem marcada para os Estados Unidos.
Diretor da clínica, o pediatra brasileiro Wladimir Lorentz conta que a ideia de criar o Ser Mamãe surgiu quando atendia turistas em Miami e percebeu que a prática de viajar para os Estados Unidos para ter filhos era comum entre os russos. “Notei que a prática se tornou comum também entre os latinos e decidi lançar o serviço para que famílias brasileiras tivessem acesso a informações sobre médicos e serviços em Miami.”
O médico atribui a alta procura à estrutura médica que o país oferece, aos índices elevados de cesarianas praticadas no Brasil e à ameaça do zika vírus. Nem Lorentz e nem o site da clínica mencionam os benefícios imigratórios de ter um filho nos Estados Unidos. “O nosso foco é o serviço médico prestado, até porque cada um possui uma situação imigratória e deve tratar o caso individualmente com advogados.”
* As mães ouvidas pela reportagem pediram para não ser identificadas.
“Bebê-âncora”
O candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicanos, Donald Trump, causou polêmica ao utilizar o termo “bebê-âncora” em referência às mães que vão ao país ter filhos para facilitar a legalização imigratória e garantir direitos americanos aos filhos – trata-se do chamado “turismo de nascimento”.
Nesse sentido, o Ser Mamãe em Miami também já foi alvo de críticas. Lorentz rebate e argumenta que o serviço prestado pela sua clínica atende a um público que não tem a intenção de sobrecarregar o sistema de saúde americano nem de imigrar de forma predatória.
“O Trump se refere a quem atravessa a fronteira de forma ilegal, têm filhos no país, não pagam pelos serviços de saúde e depois passam a depender do governo. Meus pacientes têm recursos, planejam investir nos EUA, abrir negócios ou comprar imóveis. Esse bebê no futuro vai contribuir com a economia do país.”
O médico disse ainda desencorajar clientes que cogitam utilizar o sistema público de saúde. “Sempre esclareço que os custos do procedimento têm de ser pagos pelos pais. Não é apropriado sair do Brasil e vir para os Estados Unidos utilizar o sistema público, que é direcionado para pessoas com baixa renda. Considero abusivo”, destacou.
Pela legislação americana, nascidos nos Estados Unidos têm cidadania automática, inclusive se forem filhos de turistas ou imigrantes ilegais. Trump já declarou que pretende estudar o fim da concessão automática da nacionalidade americana.
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