O promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos de Castro disse, na manhã desta terça-feira, que o detento Jaílson Oliveira - uma das testemunhas de acusação do desaparecimento e morte de Eliza Samudio arroladas pelo Ministério Público (MP) - teria dito a funcionários do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que foi ameaçado pelo goleiro Bruno Fernandes às vésperas do início do júri popular. O preso denunciou, em 2011, um esquema que teria sido montado por Bruno e Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, para matar a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, que preside o júri. Com 30 minutos de atraso, a juíza deu início, às 9h30m, ao segundo dia de julgamento do goleiro Bruno e de mais três acusados.
As declarações de Jaílson Oliveira, segundo o promotor, foram dados nesta segunda-feira. De acordo com Wagner, Jaílson disse que Bruno comentou que ele estava "falando demais", e que "peixe morre pela boca". O detento chegou a pedir à Justiça proteção no traslado do presídio para o fórum.
A magistrada começou a sessão desta terça-feira lendo um resumo do que aconteceu no primeiro dia de júri, quando a defesa de Bola deixou o caso. Ela decidiu aplicar multa aos advogados Ércio Quaresma, Fernando Costa Oliveira Magalhães e Zanone de Oliveira Júnior, por terem abandonado o plenário do júri "sem haver razão juridicamente relevante".
"Esse tipo de conduta causa grande prejuízo ao estado e à sociedade que implica em gasto de dinheiro público", afirmou ela.
"Atitudes como esta atentam contra a realização da Justiça e também à classe dos advogados e contra a própria classe de advogados", finalizou. Cada advogado deverá pagar R$ 18.660, o correspondente a 30 salários mínimos, no prazo de 20 dias. O abandono do plenário será comunicado à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), entidade que deve avaliar a conduta dos defensores.
No banco dos réus, estão sentados, além do goleiro Bruno Fernandes, que não está algemado, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e a ex-mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues de Carmo Souza. Fernanda Castro, a ex-namorada, não está presente.
Vestindo uniforme vermelho, Bruno e Macarrão chegaram ao Fórum de Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, por volta de 8h40m desta terça-feira. Eles deixaram o Presídio Nelson Hungria, na mesma cidade, por volta de 8h. Sob forte esquema de segurança, Bruno e Macarrão seguiram em um comboio formado por quatro veículos do Grupo de Operações Especiais da Polícia de Minas Gerais para o local onde está sendo realizado o julgamento deles e de mais dois acusados de envolvimento no desparecimento e morte de Eliza Samudio, em 2010. O percurso durou cerca de 20 minutos.
Em frente ao fórum, o clima ainda é de tranquilidade. Segundo o Extra, Dayanne Rodrigues de Carmo Souza, que responde ao processo em liberdade, foi a primeira a chegar no local. Ela está acompanhada do advogado do goleiro, Rui Pimenta. Ingrid Calheiros, a atual noiva de Bruno, que não tem envolvimento no caso e apenas assiste ao julgamento do goleiro, chegou logo depois ao fórum. O detento Jaílson Alves de Oliveira, arrolado pelo Ministério Público (MP) como uma das testemunhas de acusação que deve ser ouvida nesta terça, também já está no Fórum de Contagem. Ele denunciou o suposto esquema de Bruno, Macarrão e Bola para matar a juíza Marixa Fabiane Lopes, que preside o júri.
A escola municipal Babita Camargo, que fica ao lado do Fórum de Contagem, amanheceu, nesta terça-feira, pichada com frases em defesa do atleta. "Bruno, acreditamos na sua inocência", "Se não a (sic) provas não a (sic) condenação" e "Liberte o Bruno" são algumas das frases que podem ser lidas no muro da escola. Nesta segunda, o local foi pichado com frases contra o goleiro. "Bruno, me diga com quem tu anda que te direi quem tu és", dizia uma delas.
No segundo dia de julgamento do caso, três testemunhas de acusação serão ouvidas. A sessão pode contar ainda com uma acareação entre Cleiton da Silva Gonçalves, motorista da Land Rover do jogador na época do crime, e João Batista, ex-caseiro do sítio em Esmeraldas, onde Eliza ficou em cárcere privado. A delegada Ana Maria Santos e o detento Jaílson Alves de Oliveira também serão ouvidos. Ana Paula foi intimada para depor no lugar do primo de Bruno, que foi impedido de participar do julgamento pois está na lista de protegidos da Justiça.
Ainda fazem parte do rol de testemunhas de acusação a delegada Alessandra Wilke, que participou das investigações, uma testemunha da oitiva de Cleiton à polícia e uma assistente técnico-jurídico do sistema socioeducativo de Minas Gerais, que acompanhou um depoimento de Jorge Luiz Lisboa Rosa - primo do goleiro, menor à época do desaparecimento de Eliza. Somente depois da conclusão destes depoimentos, serão ouvidas as testemunhas de defesa.
Primeiro dia tem depoimento considerado esclarecedor
O primeiro dia do julgamento foi marcado por um depoimento considerado esclarecedor pela acusação. Primeira testemunha arrolada pelo Ministério Público a falar em juízo, Cleiton da Silva Gonçalves, motorista do goleiro do Flamengo na época do crime, confirmou a ordem de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, de lavar com óleo diesel a Land Rover do jogador.
"Isto foi importantíssimo para a acusação. Aquele veículo já havia passado por uma lavagem na água, e as manchas de sangue não saíram. Por qual motivo uma pessoa pode querer lavar seu carro com óleo diesel?", indagou o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro, em entrevista, ao fim da sessão desta segunda-feira.
Segundo o membro do MP, a lavagem com o óleo só não ocorreu porque o veículo foi apreendido pela Polícia Militar (PM) numa blitz. Durante a abordagem, o carro ficou retido por falta de documentos obrigatórios. A Land Rover, segundo as investigações, foi usada para trazer Eliza do Rio até o sítio de Bruno em Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No veículo, foram encontrados vestígios de sangue da ex-amante do goleiro do Flamengo. Na terça-feira, deve ocorrer uma acareação entre Cleiton e João Batista, que testemunhou o depoimento do ex-motorista à Polícia Civil.
Depois de aproximadamente dez horas, a juíza Marixa Fabiane Rodrigues encerrou, por volta das 19h40m, o primeiro dia do júri que vai julgar os réus acusados de matar a modelo Eliza Samúdio. O encerramento se deu logo após o término do depoimento de Cleiton, primeira das testemunhas a ser ouvida. Ele começou a depor por volta das 17h e, a pedido do Ministério Público, ficará retido até o fim das oitivas das demais testemunhas. O ex-motorista será encaminhado para um hotel.
Na primeira parte do julgamento, a defesa de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, conseguiu desmembrar o processo. Os advogados do ex-policial reclamaram do tempo de 20 minutos destinado para apresentar seus argumentos. Com isso, a juíza Marixa Fabiane Lopes deferiu o pedido para o réu ser julgado em outra oportunidade, provalmente no início de 2013, junto Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, e Elenilson Vítor da Silva, ex-caseiro do sítio do goleiro. Para o promotor, foi uma manobra para Bola não ser julgado agora.
Após a escolha dos jurados (seis mulheres e um homem), Cleiton Gonçalves ouviu da juíza Marixa Fabiane a leitura do seu depoimento que consta no processo. Indagado pela magistrada, ele confirmou o que havia dito durante as investigações, mas depois voltou atrás ao ser interrogado pelo promotor de Justiça. Em 2010, ele disse ter aconselhado Bruno a libertar Eliza e a criança do sítio. "Não me lembro há dois anos atrás. Ameaçaram me prender por homídio. Fiquei algemado de 3h da manhã até 15h. Cheguei a ficar sem sentir o braço", alegou Gonçalves.
Sobre a lavação da Land Rover, Gonçalves afirmou que a ordem partiu de Macarrão, tendo em vista que Bruno estava no Rio de Janeiro. "Não era motorista do Bruno. Só estava dirigindo o carro naquele dia porque o primo do Bruno era menor. Nem sei como se lava um carro", afirmou a testemunha.
Por fim, ele falou que o goleiro é "uma boa pessoa", "não presenciou ele fazer mal a ninguém" e que não tem medo dos acusados.
Ainda durante indagação do MP, o ex-motorista alegou que os óculos da marca Ray-Ban encontrados em sua casa não pertenciam à Eliza: "A mãe da minha namorada comprou os óculos para ela. Óculos são fáceis de comprar", disse Gonçalves.
Questionado pelo promotor se havia visto Fernanda acompanhando Bruno em comemoração do Time 100%, de Ribeirão das Neves, Cleiton disse: "O Bruno já teve várias loiras e várias gostosas, afirmou. Neste instante, Bruno abaixou a cabeça e começou a sorrir.
O ex-motorista, no entanto, disse não ter conhecido Eliza Samúdio. Ainda indagado pelo promotor, ele disse ter ouvido de Sérgio, primo de Bruno, a versão de que Eliza "já era", mas não tinha condições de dizer que a modelo havia sido realmente assassinada.
Mais cedo, o advogado Leonardo Diniz, que representa Luiz Henrique Romão, o Macarrão, informou que, após conversar com seu cliente, decidiu voltar atrás na decisão de abandonar o julgamento dos cinco envolvidos no assassinato de Eliza Samudio, em 2010. A defesa de Macarrão chegou a anunciar, antes do intervalo do júri, que abandonaria o plenário juntamente com a equipe de advogados de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. "Primeiro realmente nós resolvemos sair. Mas, depois, vimos que o direito de decidir é dele. Ele merece uma defesa", afirmou Diniz.
Macarrão já não estava mais presente no plenário do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Ele foi retirado durante a tarde, após se sentir mal. O amigo de Bruno pediu para sair do local e foi encaminhado de volta para o presídio de Contagem. De acordo com o advogado dele, Macarrão não se sentiu bem porque ficou muito tempo sentado e teve uma indisposição. Ainda de acordo com Diniz, ele voltará ao plenário nesta terça-feira. O réu alegou estar se sentindo mal minutos após a entrada do goleiro Bruno no plenário.
A segunda parte do primeiro dia de julgamento começou com o pronunciamento do promotor Henry Castro. Em seguida, foram escolhidos os sete jurados. São eles: Ana Lídia Costa Gouveia, Tania Márcia Caetano Moreira, Ivone Bispo Dias, Elizangela Rosilene Costa, Roberto Severo, Lilian Queiroga e Ana Lúcia de Oliveira. No discurso, o promotor afirmou que as defesas pediram para incluir no processo fotos vulgares e pornográficas com o objetivo de aviltar a memória da vítima.
Advogados de defesa de Bola e Macarrão abandonam plenário
O júri recomeçou depois de um intervalo de duas horas para o almoço sem a presença de Bola. A juíza Marixa Fabiane Rodrigues informou que ele não aceitou ser representado pelo defensor público. Com isso, o processo foi desmembrado, e ele terá dez dias para nomear os novos advogados, já que Ércio Quaresma e Zanone Manuel de Oliveira, que o defendiam, deixaram o caso. O julgamento de Bola, dessa forma, será realizado em outra data, a ser determinada.
Com a saída da defesa de Bola, a tendência é que o julgamento termine na próxima sexta-feira. A previsão é do jurista Luiz Flávio Gomes. Ércio Quaresma, advogado de Bola, avisou que iria ouvir cada uma das cinco testemunhas de defesa por cinco horas.
Além do goleiro Bruno Fernandes, estiveram no fórum neste primeiro dia sua ex-mulher Dayanne Rodrigues e sua ex-namorada Fernanda Castro. Bruno vestia uniforme vermelho da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi). Dayanne Rodrigues estava de paletó branco, e Fernanda Castro usava um preto. Nenhum dos réus estava algemado. Bruno, Dayanne e Fernanda estavam virados para a juíza. Bruno olhou várias vezes para o lado onde estava a plateia. Ele e sua noiva, Ingrid Calheiros, estavam usando aliança na mão esquerda. A jovem estava acompanhando júri na parte reservada aos parentes dos réus. Dayanne estava ao lado de Bruno, com as mãos cruzadas e mexendo bastante os dedos. Fernanda, de óculos e cabelo preso com uma trança, estava um pouco atrás dos dois.
Os advogados de defesa de Bola abandonaram o plenário pouco antes de 13h. A confusão teve início com a decisão da juíza de que cada advogado de defesa teria direito a 20 minutos para suas manifestações. "Antes de sermos alijados da tribuna, gostaríamos de deixar claro aos jurados que é impossível a realização de um julgamento justo", disse Ércio Quaresma, um dos advogados de Bola, momentos antes de deixar o local. "Tenham todos um bom dia, um bom trabalho", disse o advogado.
Com o abandono das equipes de defesa, Bola foi anunciado como indefeso pela juíza que preside o júri. A magistrada designou cinco defensores públicos que tiveram acesso ao processo da morte da modelo para ficarem de prontidão caso os advogados de todo os cinco réus decidam abandonar o plenário.
Mais cedo, o advogado Ércio Quaresma adiantou que Bola, acusado de ser o executor de Eliza, não aceitaria ser defendido pela Defensoria Pública. No início do julgamento, o advogado causou tumulto. Primeiro exigiu que tivesse acesso às mídias anexadas ao processo. E ainda determinou que eles fossem vistas em um dos seis computadores trazido por ele ao plenário. A juíza Marixa Fabiane Rodrigues questionou, dizendo não ter certeza se ele copiaria ou não as peças do processo.
Segundo a juíza, as imagens de mídias foram colocadas à disposição desde o começo do processo aos advogados de defesa e de acusação. A juíza completou afirmando que apenas os vídeos das oitivas das testemunhas não tiveram suas cópias autorizadas para manter a integridade das testemunhas.
O bate-boca continuou com o advogado afirmando que estava baseado na lei para ter direito ao acesso às mídias. A juíza afirmou que ele teve todo o tempo do mundo para questionar o fato. Ele rebateu afirmando que ela não poderia ter o direito de dizer em qual tempo ele poderia ou não ter acesso às mídias. Ela então disse que o tempo dele estava encerrado e cassou a palavra dele.
Defesa do goleiro Bruno diz que Eliza é procurada em São Paulo
Apesar da desistência dos defensores de Bola, o advogado do goleiro, Rui Pimenta, disse que não vai abandonar seu cliente:"O Bruno está esperançoso. O Bruno está cansado de cadeia, doido pra sair e comer uma picanha mal passada. Para isso, ele precisa de um alvará de soltura. Por isso vamos continuar no júri", disse o advogado.
Pimenta questionou o tempo com a juíza, alegando que o processo é longo e vai causar constrangimento se ela cassar a palavra após o prazo previsto. O advogado também está requerendo novamente o depoimento do padrasto e do primo de Bruno, menor de idade na época do crime."Foi através do depoimento dele, o menor, que se instaurou esse processo. É imprescindível que ele venha. Não abrimos mão disso", justificou Pimenta.
Para o advogado, o julgamento não vai durar mais que quatro dias, pois, segundo ele, uma testemunha viu Eliza em um hotel de São Paulo. Ele afirmou que tem uma pessoa procurando por ela na cidade.
O julgamento do goleiro Bruno de Souza e outros quatro acusados da morte da modelo Eliza Samudio teve início por volta das 10h desta segunda-feira no Fórum de Contagem, Região Metropolitana de Minas Gerais. O início dos depoimentos demorou devido ao atraso de testemunhas. O corpo de jurados decidirá o destino do goleiro e dos réus Luiz Henrique Romão, conhecido como Macarrão; Marcos Aparecido dos Santos, o Bola; Dayanne Rodrigues, com quem Bruno tem duas filhas; e Fernanda Castro, ex-namorada dele, acusados de sequestro, cárcere privado, homicídio e ocultação de cadáver. Todos negam participação. Inicialmente, o julgamento estava previsto para durar dez dias.