Quem vê Lótus brincando com crianças não acredita. Mas o pastor belga malinois de 6 anos e comportamento dócil, que costuma se apresentar em escolas e é constantemente abordado na rua para fotos, é o pesadelo dos traficantes.
Veja fotos dos cachorros da PM
Graças ao faro certeiro do cachorro, 805 quilos de entorpecentes foram retirados de circulação pela Polícia Militar.Nos últimos cinco anos, o pastor foi responsável por 31% de todas as apreensões de drogas feitas pela Companhia de Operações com Cães (COC) em Curitiba e região metropolitana. Dos oito cães farejadores de entorpecentes da unidade, nenhum tem média tão alta.
A eficiência de Lótus é tanta que em determinados locais o cachorro já é bem conhecido. “Na Ilha do Mel ‘amam’ o Lótus. É só ele chegar na fila da barca que o pessoal já começa a se livrar do flagrante antes mesmo da revista”, brinca o soldado Alexandre Alves, 32 anos, condutor do cão.
A eficiência também corre no boca a boca da bandidagem. Volta e meia o soldado ouve comentários de traficantes na escuta da polícia sobre cargas interceptadas pelo cão. “Geralmente eles reclamam que a droga estava bem escondida, mas aí chegou o cachorro do capeta, como eles chamam o Lótus, e encontrou”, diverte-se o soldado.
Alves conta que o cachorro já chamava atenção filhote. Da ninhada, era o mais agitado, o que levou os policiais a separá-lo para treinamento. “No caso dos cães farejadores, a escolha sempre é pelo filhote que mais gosta de brincar. Afinal, é isso o que ele vai fazer no trabalho policial”, explica o soldado, lembrando que o animal não tem contato com nenhum tipo de entorpecente, só com o odor. Ou seja, o cachorro não inala nenhum tóxico.
A lista de locais em que Lótus já encontrou drogas é variada. Há poucas semanas, o próprio policial que o conduz ficou admirado. Após vasculhar uma residência inteira, o cachorro se ateve à parede da cozinha. “Até eu achei que não tinha nada ali, porque a parede era azulejada. Mas quando passei na segunda vez, o Lótus começou a arranhar o local. Aí não teve jeito. Os colegas tiveram que arranjar uma marreta para quebrar a parede”, afirma Alves. Ao fazer um buraco, os policiais encontraram tijolos de maconha.
As quantidades também variam. Em um caminhão carregado de soja, bastou Lótus subir na carroceria para começar a cavoucar os grãos, onde estavam escondidos 300 quilos de maconha. Já na revista ao ônibus de uma torcida organizada que vinha de São Paulo, Lótus começou a morder a cortina da janela. Os policiais balançaram o pano e não encontraram nada. Só conseguiram o flagrante quando rasgaram a costura minúscula da barra da cortina, onde estava uma bucha de cocaína. “O cachorro não é mágico. Se tiver o odor, por menor que seja, que venha de uma frestinha de milímetros, ele detecta”, ressalta Alves.
Em forma
De todas as qualidades de Lótus, Alves destaca o pique. “Se for preciso, ele atravessa rio, levanta toco de madeira com o fuço, faz tudo para encontrar a droga. Não tem obstáculo que pare ele”, enfatiza.
Para manter esse ritmo, o policial tem que cuidar da forma física do animal. De segunda a sexta-feira, todas as manhãs, ambos correm juntos por uma hora. Depois, Lótus volta ao canil, se hidrata, se alimenta e tira um cochilo. Na sequência, vem o treino técnico. Recipientes são espalhadas nos locais mais variados para treinar não só o o olfato, mas também agilidades específicas, como a capacidade de subir em obstáculos”. “A gente nunca sabe onde vai encontrar a droga”, ressalta Alves.
Nas férias de Alves, Lótus também tem um descanso, quando até chega a ir para a casa de seu condutor por alguns dias. Senão, mesmo de folga, o soldado vai ao canil visitá-lo - assim como a maioria dos policiais que atua no COC faz com seus animais no período de descanso. “Se o condutor fica muito tempo longe, pode afetar a produtividade do cachorro. É que nem ir na academia. Se a pessoa deixa de ir, não alcança os mesmos resultados quando volta”, explica o capitão Gustavo Zancan, comandante do COC.
Mas, no caso do soldado Alves, não foram só as férias que o fizeram retornar para ver o companheiro. No período de oito meses em que trabalhou em outro setor da PM, era difícil a semana em que não visitava o cachorro no canil. “Sempre batia saudade. Além do que, trabalhar com bicho, para mim, é bem melhor”, enfatiza.
Funções
A Polícia Militar possui 160 cachorros em unidades de todo o Paraná. Basicamente, os animais cumprem três funções: patrulhamento, faro de entorpecentes/explosivos e busca de pessoas. Conheça cada uma das funções e as raças mais adequadas para elas:
Função - o cachorro é um reforço do policiamento ostensivo. O animal atua na prevenção e controle de distúrbios, como em estádios de futebol e rebeliões em presídios. “Nesse caso, o cão chega a prevenir a ação de um batalhão inteiro em algumas ocasiões, já que um latido muitas vezes é mais eficiente do que uma ordem do policial”, explica o capitão Gustavo Dalledone Zancan, comandante do COC.
Raças – pastor belga malinois, pastor alemão, rottweiller, doberman e pit bull.
Função – o cachorro é treinado para identificar substâncias químicas. O faro do animal é tão aguçado que ele consegue diferenciar e identificar diversos odores, mesmo que misturados. “É como se fosse uma pizza: nós só conseguimos identificar o cheiro geral dela, mas o animal consegue diferenciar cada um dos ingredientes”, ilustra o capitão Gustavo Zancan, comandante da COC.
Raças – pastor belga malinois, labrador, cocker spaniel e beagle.
Função – o cachorro é condicionado a encontrar pessoas – sejam criminosos fugitivos ou pessoas desaparecidas. Além do faro aguçado, o animal tem que ter uma boa resistência física para caminhar longos trajetos em ambientes inóspitos, como matas. Há dez anos, a PM treina cachorros da raça bloodhound, considerada a melhor para a função. “Há um estudo da Espanha que mostra que esses cachorros são capazes de memorizar determinados odores mesmo que não tenham contato com o cheiro por cinco anos”, aponta o capitão Gustavo Zancan, comandante da COC.
Raça – bloodhound
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