"Só não repare no meu novo teto solar", disse Rosilene de Freitas, 43 anos, agarrando-se ao otimismo diante de um cenário desolador: a pequena casa em que morava foi destruída pela forte chuva de granizo que atingiu Campo Largo na sexta-feira à tarde. Pouco dos móveis foram salvos; do telhado, nem uma única telha. "Quando as telhas começaram a cair, me cobri com um cobertor e corri para fora, não consegui carregar nada", contou.
A situação enfrentada por Rosilene se repete em vários bairros da cidade. O granizo atingiu 3,6 mil imóveis, inclusive o centro administrativo, cujos prédios seguem cobertos por lonas e os serviços municipais, suspensos. Os prejuízos são estimados em R$ 12 milhões apenas com bens públicos.
A cidade toda está mobilizada. O Centro da Juventude, ponto de apoio para o recebimento e distribuição de donativos, tem uma equipe de 600 voluntários. Até ontem, mais de cinco mil pessoas já haviam sido atendidas, sem contar a lista de espera por lonas, telhas e colchões.
A falta de lonas e telhas era motivo de preocupação, pois centenas de casas permaneciam descobertas. A escassez dos produtos gerou uma série de queixas contra a prática de preços abusivos, levando o Procon a montar uma espécie de central de atendimento para orientar os moradores sobre como agir nesses casos.
"O que dá para perceber é que não temos experiência nesse tipo de desastre. E é uma experiência muito difícil, dura, mas que vai nos deixar um ensinamento para o futuro", disse o prefeito do município, Affonso Guimarães. Hoje pela manhã, ele encontrará o governador Beto Richa para discutir apoio e liberação de verba para a reconstrução do município.
Apesar de ter a situação mais crítica, não é só Campo Largo que foi afetada. Outras 12 cidades do Paraná registraram estragos, de acordo com boletim da Defesa Civil: Almirante Tamandaré, Curitiba, Campo Magro, Francisco Beltrão, Honório Serpa, Mercedes, Palmas, Piraquara, Ponta Grossa, São José dos Pinhais, Renascença e Terra Boa.
De acordo com o Comandante do Corpo de Bombeiros de Campo Largo, tenente Carlos Eduardo Klein, pelo menos 110 mil pessoas foram prejudicadas pela chuva de granizo. Serviços básicos, como fornecimento de energia elétrica e abastecimento de água, foram interrompidos e só devem ser normalizados hoje.
Por causa de estragos na estrutura das escolas, as aulas foram suspensas em 16 instituições públicas, deixando cerca de cinco mil crianças sem aula pelo menos até amanhã. Uma unidade de saúde e dois hospitais particulares também fecharam as portas, sobrecarregando o Centro Médico Hospitalar enquanto não recebem novos pacientes.
Chuva dá trégua
Um alento para todos que foram prejudicados pela chuva: pelo menos até quinta-feira não há previsão de tempestades para a região de Curitiba. Segundo o meteorologista do Simepar Tarcísio Valentim da Costa, hoje pela manhã ainda há a possibilidade de breves pancadas , mas à tarde o céu nublado dá lugar a um sol tímido, que deve perdurar por todo o dia.