Uma iniciativa que poderia amenizar a dura jornada dos catadores de material reciclável de Curitiba está parada nos barracões das cooperativas. No fim de 2012, na gestão Luciano Ducci, a prefeitura entregou 108 carrinhos elétricos para os trabalhadores cadastrados no Ecocidadão, programa que organiza a formalização dos catadores em associações. Quase três anos depois, carrinheiros dizem que há veículos encostados há oito meses, por falta de dinheiro para o conserto. Além da ausência de manutenção, não há planos de expansão do projeto – embora a proposta inicial fosse repassar 504 carrinhos elétricos aos associados até o fim de 2013.
Empresa rebate críticas
A empresa Oficina do Metal, responsável pelo Eccocell, carrinho distribuídos às cooperativas de catadores de Curitiba, questiona as críticas feitas pelos trabalhadores. Veja a nota enviada pela empresa:
“A empresa Oficina do Metal criou e desenvolveu o Eccocell. Trata-se de um veículo elétrico para transporte de cargas, ou coleta de resíduos, ideal para catadores, empresas e condomínios. Ele é silencioso, não poluente, tem autonomia de 8 horas de trabalho, suporta até 500 quilos e pode ser conduzido por qualquer pessoa, tanto em áreas internas como externas.
Em 2012 foram entregues 108 unidades de carrinhos elétricos para o projeto Ecocidadão e a empresa se dedicou intensamente para que o mesmo desse certo , inclusive fornecendo 13 meses de assistência técnica e manutenção gratuita, em que a maioria dos consertos foram em virtude da má utilização dos carrinhos. A empresa também forneceu treinamento para todos os usuários a fim de que o projeto caminhasse e chegasse às mais de 500 unidades previstas no projeto inicial.
Acompanhando o dia a dia dos catadores pode-se afirmar sem dúvida que falta controle na administração da utilização dos carrinhos. A maioria dos carrinhos passa de mão em mão, e ninguém fica responsável pelo mesmo. Trata-se de um equipamento que é utilizado todos os dias para o transporte de cargas pesadas, logo precisa que o seu operador fique atento quanto a questões básicas, como calibragem dos pneus e recarga das baterias. Nas cooperativas que têm um plano organizado de gestão, com pessoas responsáveis, os carrinhos funcionam muito bem. O catador trabalha o dia todo, recolhendo material reciclável sem esforço algum, não sente mais lesões físicas e tem sua renda aumentada, pois consegue retirar mais material fazendo um número maior de viagens do que com os antigos carrinhos manuais.
A Oficina do Metal possui carrinhos em cooperativas de São Paulo, exatamente iguais aos fornecidos para o Ecocidadão, e lá o projeto funciona muito bem. São catadores associados que são responsáveis pelos carrinhos, e que estão recebendo cerca de R$ 2.500 por mês com a retirada de material reciclável. Todos os dias o responsável pelo projeto autoriza a saída do catador com o seu carrinho, o recebe e inspeciona no final do dia.
Referente ao depoimento de uma catadora que denigre o Eccocell, é importante ressaltar que a mesma desde o início recusou-se a utilizar o carrinho elétrico, portanto não serve de referência sobre o mesmo. Existem várias matérias veiculadas na mídia, inclusive em cooperativas de grande porte, onde o depoimento dos usuários é de satisfação por usar um carrinho fabricado detalhadamente, visando ao bem estar, à saúde, à segurança e ao mínimo esforço, nessa atividade tão importante. Quanto à assistência técnica, o fato de a Oficina do Metal ser a fabricante do Eccocell permite oferecer o menor preço, salientando que a manutenção dos carrinhos, desde que bem cuidados , é de baixíssimo custo”.
A discussão sobre os veículos elétricos ressurgiu após a Câmara Municipal de Curitiba aprovar por unanimidade, no fim de setembro, projeto de lei que proíbe o trânsito na cidade de veículos puxados por animais, o que inclui os pesados carrinhos de catadores de papel, metal e outros materiais reaproveitáveis. Para críticos da proposta, a lei beneficia os animais, mas prejudica os trabalhadores, uma vez que o mesmo serviço antes feito pelos cavalos terá de ser realizado por humanos. Comprados por R$ 8 mil cada um, os carrinhos elétricos poderiam funcionar como uma alternativa. A promessa era melhorar as condições de trabalho e a renda dos catadores, que conseguiriam levar mais material do que nos veículos manuais.
Na opinião da maior parte dos catadores ouvidos pela reportagem, há falhas no projeto, apesar de os veículos elétricos ajudarem bastante os trabalhadores. Paulo Roberto de Oliveira tem 29 anos e há 12 trabalha com materiais recicláveis. Segundo ele, o carrinho elétrico diminui em 30% o tempo de deslocamento. “Com o elétrico a pessoa está no céu”, afirma ele, que preside a Associação Terra Santa, com 48 associados.
Mudança tirou trabalhadores das ruas
Segundo o gestor ambiental Marcelo do Rocio, poucos trabalhadores dos barracões atuam de fato como catadores. Marcelo presta assessoria para algumas cooperativas e diz que a maioria das pessoas prefere atuar na separação e venda do lixo recolhido pela prefeitura a ir para as ruas coletar materiais. De acordo com ele, o grande problema social hoje envolve os carrinheiros informais, que não estão cadastrados no programa Ecocidadão, mas são fundamentais para a limpeza da cidade. Cerca de 600 pessoas trabalham hoje nos barracões, segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Mas estima-se que 10 mil catadores atuem em toda a cidade.
Representante no Paraná do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável, Marilza Lima diz que cerca de 50 mil pessoas, incluindo catadores e familiares, dependem da coleta de lixo em Curitiba. Ela reforça que faltam política públicas voltadas a essa população. ( M.C)
“O carrinho em si é ótimo, mas só há duas oficinas que fazem o conserto, que chega a custar R$ 800 por carrinho. O catador ganha de R$ 900 a R$ 1,2 mil por mês, como vai pagar a manutenção?”, questiona Sandra Mara Leão, presidente da Associação Projeto Mutirão, que reúne 58 trabalhadores e tem 20 carrinhos. Seis deles estão parados, alguns há seis meses. No barracão da cooperativa Amar Ebenezer há veículos sem uso há oito meses. A catadora Ivone Camargo, de 43 anos, conta que as rodas do carrinho não aguentam muito peso. “Estávamos carregando 300 quilos, mas as rodas quebraram. Por isso diminuímos para 200”, afirma.
A prefeitura diz que cada carrinho consegue levar 400 quilos. Mas, de acordo com Lia Santos, que trabalha com a coleta de recicláveis há 30 anos, os veículos carregam metade desse peso. “Eu achei o carrinho muito fraco e estreito. Só usei umas três vezes. Na primeira consegui trazer 200 quilos e ainda assim ele quebrou”, diz. “Sei que a intenção foi boa, mas a prefeitura não pediu a nossa opinião. E quem puxa os carrinhos somos nós”, afirma Lia, que preside a cooperativa Catamare.
Reparos são responsabilidade das cooperativas, afirma prefeitura
A prefeitura diz que a previsão era adquirir 504 carrinhos para suprir novos parques de recepção de recicláveis. Como não houve o aumento esperado no número de barracões, nem todos os veículos foram comprados. Sobre a manutenção dos equipamentos, o município informa que o pagamento deve ser feito pelos próprios catadores, com os recursos que a prefeitura repassa desde abril aos barracões por receberem os materiais recolhidos pelos caminhões do Lixo que Não é Lixo. Diretora do Departamento de Limpeza Pública da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Patrícia Brenner Lopes afirma que até março o Ecocidadão era gerenciado pelo Instituto Pró-Cidadania de Curitiba (IPCC), que fazia todos os pagamentos. Agora são os próprios trabalhadores que administram as contas.
“As associações que têm imóvel próprio recebem R$ 160 reais por tonelada de lixo recebido dos caminhões da prefeitura. As que têm de pagar aluguel ganham R$ 414,31 por tonelada. Quanto melhor elas gerirem esses recursos, mais vai sobrar para dividir pelos associados e para fazer a manutenção dos carrinhos”, diz Patrícia. Ela explica que a autogestão dos trabalhadores atende à Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê a emancipação econômica de catadores de materiais recicláveis.
Os trabalhadores, por sua vez, reclamam de que os recursos são insuficientes. “Usamos esse dinheiro praticamente apenas para pagar as despesas do barracão. Só de luz pagamos de R$ 2 mil a R$ 3 mil por mês. Também temos que pagar água, telefone, aluguel do barracão, equipamentos de proteção”, afirma Sandra Mara Leão, presidente da Associação Projeto Mutirão. (M.C)
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