Os últimos dez anos foram marcados por um forte crescimento no número de famílias morando em imóveis alugados, revelam os dados consolidados do Censo 2010 divulgados pelo IBGE. Entre 2000 e o ano passado, houve um crescimento de 64% de famílias em residências alugadas no Brasil, enquanto as habitações cedidas ou cuja condição não foi especificada recuou 4%. O aumento de residências próprias foi de 27,2%, um número inercial, que acompanha o aumento no número de residências pesquisadas (44,8 milhões em 2000 ante 57,3 milhões em 2010 um aumento de 27,9%). Ainda assim, os imóveis próprios representam 73,3% do total de lares brasileiros.No Paraná, o fenômeno do aluguel é ainda mais vigoroso. Em 2000, 400 mil famílias haviam declarado ao IBGE que usavam essa modalidade de moradia. No levantamento do ano passado, a fatia saltou para 2,3 milhões aumento de quase 500%. A quantidade de imóveis próprios também cresceu estruturalmente no estado, passando de 1,9 milhão para 3,2 milhões (alta de 68,4%).
O empresário Luiz Valdir Nardelli, vice-presidente de locação e administração de imóveis do Sindicato de Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR), atribui o crescimento a dois fatores: um econômico e outro comportamental. O primeiro deles é representado pelo acesso aos bens promovido pelo aumento da renda e do poder de compra do brasileiro, percebido ao longo da década passada. "Com estabilidade financeira, a família passa a buscar qualidade de vida, e um dos primeiros desejos é melhorar o nível da moradia. Isso porque as classes D e E, via de regra, moram muito mal. E o aluguel acaba sendo a primeira opção, até por opção para quem não quer ter uma dívida ou fazer um investimento", analisa.
O outro fator, segundo Nardelli, está relacionado a questões de mobilidade e dinâmica do mercado de trabalho. "É mais fácil se mudar caso a pessoa esteja morando de aluguel. E mudanças de emprego acabam influenciando nesse processo. Hoje, cidades do interior costumam oferecer uma qualidade de vida superior à das metrópoles, e esses pequenos municípios vão atrás de mão de obra em outros lugares. Mesmo dentro de uma cidade isso acontece. Se a pessoa mora e trabalha no Xaxim (bairro da região Sul de Curitiba) e se muda para um emprego na Barreirinha (região Norte), o aluguel simplifica a mudança. Caso contrário a pessoa vai passar muito tempo no trânsito", explica.
Deficiências
O saneamento básico ainda demonstra ser o serviço de infraestrutura que menos chega aos lares brasileiros, embora também tenha crescido ao longo da década. De acordo com o IBGE, apenas 55,4% dos 57,3 milhões de domicílios estão ligados à rede geral de esgoto. Outros 11,6% utilizam fossa séptica, forma de saneamento considerada adequada pelo instituto e incluída no quesito "possui saneamento".
Para Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil (dedicado a políticas de saneamento), os números devem ser vistos com uma cautela ainda maior. Segundo ele, o formato da pesquisa (entrevistas com um representante da família) tende a gerar distorções. "O mapeamento de esgoto é um problema para o Censo, pois as pessoas muitas vezes não têm certeza se a casa está realmente ligada na rede de esgoto", justifica. "Por isso, preferimos usar dados do Sistema Nacional de Informação Sanitária, que são dados técnicos. Em 2008, ano do último levantamento disponível, tínhamos apenas 43% das casas conectadas à rede de esgoto", informa.
No Censo 2010, quase 83% dos entrevistados (47,5 milhões de residências) declararam possuir serviço de abastecimento de água um aumento de 36,5% em relação há 10 anos. Consequentemente, o número de poços e nascentes usados para consumir água caiu 18,5%.
Outros indicadores também apontam crescimento. O número de domicílios sem banheiro caiu de 8,3% do total em 2000 para 2,6% em 2010. Quase todos os domicílios do país (98,7%) são alcançados pelo serviço. É a primeira vez que o IBGE pesquisa o acesso a tal serviço no Censo e em todos os lares. Em 2000, o levantamento era por amostra e constatou a presença de 94,5% domicílios atendidos.