Expressões como ‘cascá o bico’ (rir muito), ‘picô a mula’ (fugiu) e ‘carque forte’ (ponha força), que não seguem o padrão da língua ensinada nas escolas, passarão a fazer parte da cultura oficial de Piracicaba, no interior de São Paulo. O ‘caipiracicabano’, a forma de falar típica da região, cunhando expressões, trocando letras e carregando nos “erres”, acaba de ser considerada patrimônio imaterial pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba (Codepac).
O relatório final, divulgado na quinta-feira (18), reconheceu a existência do “dialeto de Piracicaba” e sua importância na identidade cultural da população. O decreto de tombamento do conjunto de expressões e palavras características do dialeto caipiracicabano será assinado pelo prefeito Gabriel Ferrato (PSB), em data ainda não definida.
A conclusão do relatório foi baseada em consultas a especialistas, documentos históricos e registros das manifestações faladas e escritas, confirmando a relação direta entre a linguagem, os costumes e tradições locais. De acordo com a pesquisadora Renata Gava, do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, o falar ‘caipiracicabano’ é caracterizado pela pronúncia carregada dos “erres” e a troca de letras como o “L” pelo “R” e o LH” pelo “I”, e teve início nos contatos entre índios e bandeirantes que tiveram influência na formação da região.
O jornalista Cecílio Elias Neto, autor do livro “Dicionário do Caipiracicabano: arco, tarco e verva”, lembra que o presidente Prudente de Moraes, que nasceu em Itu, mas viveu e morreu em Piracicaba, falava com sotaque e tinha o apelido de “Biriba, o presidente caipira”. Ele defende que o dialeto seja usado como um diferencial da cidade. “Quem conhece nosso jeito de falar, gosta e adota, por isso Piracicaba é uma grife do Estado de São Paulo”, disse.
O dialeto é o primeiro bem imaterial tombado pelo órgão do patrimônio histórico municipal, que já registra 120 bens tombados na cidade, na maioria imóveis, logradouros e monumentos. O Conselho pretende agora encaminhar o pedido de reconhecimento do ‘caipiracicabano’ como patrimônio imaterial de São Paulo e do Brasil.