Cristiane Yared pretende recolher assinaturas para mudar lei referente a homicídios causados por motoristas embriagados| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

Busca por justiça não deixa tempo para luto

Embrenhada em uma luta por Justiça para outras vítimas da violência no trânsito e para colocar o assassino do filho na cadeia, a empresária Cristiane Yared mal conseguiu viver o luto pela morte de Gilmar Rafael Yared. "Você acaba se envolvendo com a dor dos outros. Quando você começa a chorar, o telefone toca", conta.

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De repente, a frase "190 km/h é crime" se espalhou em adesivos pela cidade. Tratava-se de um silencioso protesto ruidoso. O ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho, embriagado, havia acabado de se envolver em um acidente que causou a morte de dois jovens. De acordo com as primeiras notícias, o velocímetro do carro de Carli teria travado nos 190 km/h. A empresária Cristiane Yared, mãe de Gilmar Rafael Yared, um dos rapazes mortos, entrou em cena. Ela não se calou e se tornou símbolo da luta contra a violência no trânsito e a impunidade. Hoje, quando a tragédia completa um ano, Cristiane e familiares de outras vítimas de violência prometem fechar o trânsito no local do acidente.

Para o evento, haverá carro de som, padre, pastor e cantor. "Vamos fazer um momento de oração e um manifesto pela segurança, pedindo que providências sejam tomadas", diz Cristiane. "Toda a população está convidada", afirma. A família de Carlos Murilo de Almeida, o outro jovem que também morreu no acidente, também deve participar do ato.

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Junto com o evento, será lançado um movimento que deve percorrer todo o país na tentativa de recolher 1,3 milhão de assinaturas pedindo que o Congresso Nacional aprecie um projeto de lei que torne expressa no Código de Trânsito Brasileiro a previsão de que o homicídio causado por motorista embriagado é doloso (intencional). A ideia é evitar que a falta de previsão expressa acabe gerando impunidade.

Passado exatamente um ano do acidente, Fernando Ribas Carli Filho continua a responder o processo em liberdade. Não passou um dia sequer na prisão. Encerrado o inquérito policial, Carli Filho foi denunciado por homicídio com dolo eventual (quando o agente assume o risco de produzir o resultado) e, com isso, o caso foi enviado ao Tribunal do Júri.

"Bom menino"

Em fevereiro, as testemunhas passaram a ser ouvidas em juízo. De lá para cá, foram realizadas três audiências, mas ainda há depoimentos a serem tomados. Três testemunhas "abonatórias" foram convocadas pela defesa – elas não presenciaram o acidente, só têm a missão de falar sobre o caráter de Carli. Como não moram em Curitiba, precisarão ser ouvidas por meio de um mecanismo moroso chamado "carta precatória".

"A defesa arrolou uma série de testemunhas não presenciais para dizer que o Carli Filho é um bom menino. Meu filho é que era um bom menino, que não tinha uma gota de álcool no sangue", critica Cristiane. Uma das testemunhas será ouvida em Cuiabá (MT) na próxima sexta-feira; outra, em Joinville (SC), no dia 24; e a terceira, em São Paulo, em 3 de agosto.

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Rapidez

O assistente de acusação e advogado da família das vítimas, Elias Mattar Assad, pediu que o juiz não espere esses depoimentos e designe desde já a audiência final para ouvir o ex-deputado e decidir se Carli Filho vai ou não a júri popular. "A lei prevê que o juiz não precisa esperar as cartas precatórias para o processo andar", explica Assad. No pedido, o advogado também solicita mais rapidez, uma vez que a legislação brasileira prevê que esta fase processual deve durar até 90 dias. Para o jurista Luiz Flávio Gomes, o processo está mesmo atrasado. "Às vezes atrasa um pouco, mas não tanto. Os juízes, em geral, têm observado esse prazo da lei", diz.

A expectativa de Assad é que essa audiência final seja marcada para o fim de agosto ou setembro, e que o juiz decida mandar Carli Filho a júri popular. "É uma marcha inexorável. Esse caso será um divisor de águas e deve definir se casos assim são de competência do Tribunal do Júri ou não", diz Assad. Na opinião de Gomes, o caso é mesmo para júri popular. Mas, antes que isso seja definido, o jurista acredita que a defesa levará a discussão até Brasília, no Supremo Tribunal Federal. O advogado de Carli Filho, Roberto Brzezinki Neto, foi procurado pela reportagem, mas informou, por meio de sua secretária, que não falaria sobre o caso.

Serviço:

O culto ecumênico em alusão ao primeiro ano do acidente ocorre no local da colisão, no cruzamento das ruas Monsenhor Ivo Zanlorenzi e Paulo Gorski, no bairro Mossunguê, às 20 horas.

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