Orfão de pais vivos, que o abandonaram aos 3 meses, Bruno foi criado pela avó paterna na periferia de Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte. O sonho era ser jogador de futebol, o mesmo de muitos meninos brasileiros, em geral nunca concretizado. Sua vontade era tanta que contrariou as estatísticas. Aos 12 anos, vira goleiro mirim e faz sua primeira grande defesa, na vida: agarra a chance. De quase invisível, no início da adolescência, torna-se um ídolo. Ele deixa um pequeno clube, passa por alguns outros médios e grandes, impede alguns gols dados como certos e adentra o gramado do Flamengo, um dos maiores times do país, com uma torcida fanática aos seus pés e um salário de R$ 200 mil.

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O parágrafo acima descreve um típico roteiro de histórias de superação, de volta por cima. Mas era apenas um lado da história, como mostra reportagem do O Globo deste domingo (11).

O provável assassinato de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno, desaparecida há cerca de um mês, deu um choque de realidade na plateia que consumia a biografia politicamente correta do atleta, feita sob medida para garantir um sucesso de vendas. O outro Bruno, de sobrenome Fernandes das Dores de Souza, começou a aparecer.

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"Com uma mão, ele me puxava forte pelo cabelo. Com a outra, apontava para a minha cara, me dando ordens para não gritar", conta, assustada, uma garota de programa que, em 2008, participou de uma orgia no sítio do goleiro em Esmeraldas, Minas, onde diz ter sido surrada por Bruno e outros dois jogadores do Flamengo. "O Bruno é agressivo, todos esses jogadores são. Ele gosta de humilhar as pessoas. Na minha colega, que tinha passado a noite com ele, e com quem já tinha ficado outras vezes, só batia no rosto e na cabeça. Depois, um deles nos abandonou na BR-040, com ameaças, dizendo que se vingariam se procurássemos a polícia. Assim mesmo, seguimos para a delegacia, sangrando em alguns ferimentos e com várias marcas roxas, principalmente no rosto", disse.

Indenização pedida é de R$ 1,8 milhão

O processo foi impetrado por duas das garotas de programa há dois anos. A denúncia, que corre na Justiça de Minas, dá conta de que 18 mulheres haviam sido contratadas para a orgia, a valores que variavam de R$ 300 a R$ 500, dependendo do que estivessem dispostas a fazer. O pedido de indenização por danos morais é de R$ 1,8 milhão. Fora dos autos, e agora com o caso de Eliza, as vítimas lembram impressionadas que Bruno, quando não estava batendo, garantia que o "serviço" fosse feito por seus colegas sem incômodas interrupções. Como a de um grupo de pagode local - que tocou na festinha particular -, cujos músicos socorreram, num determinado momento, uma das garotas.

"O Bruno olhava e avisava para uma rodinha de pessoas que viam um outro jogador nos bater e até atirar garrafas de bebida na gente: "deixa que ele sabe o que está fazendo". E ninguém se mexia, pareciam ter medo dele, lembra uma das vítimas.

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