Os médicos e enfermeiros denunciados à Justiça sob acusação de terem matado pacientes do Hospital Evangélico de Curitiba podem responder por mais óbitos ocorridos na unidade. O promotor Paulo Lima, do Ministério Público do Paraná (MP-PR), afirmou, nesta segunda-feira (25), que há "elementos concretos" que apontam que a equipe médica da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Geral do hospital teria acelerado a morte de vários outros pacientes, além dos sete casos já relatados.

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"Há uma suspeita muito forte e elementos concretos que precisamos chegar a uma conclusão final. Os procedimentos usados [nestes novos casos] são semelhantes aos adotados nas mortes já denunciadas", afirmou o promotor.

No domingo (24), em entrevista ao programa Fantástico, o auditor do Ministério da Saúde, Mário Lobato adiantou que uma sindicância realizada nos prontuários do hospital identificou outros 20 óbitos com indícios de que podem ter sido provocados pela equipe médica sob investigação.

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MP-PR pede que Virgínia seja reconduzida à prisão

Nesta segunda-feira, por volta das 17h30, o MP-PR entrou com recurso pedindo à Justiça a restauração da prisão da médica Virgínia Helena Soares de Souza seja reconduzida à prisão. Ela permaneceu detida por um mês, mas foi posta em liberdade na última semana.

"Nós entendemos que ela [Virgínia] deve responder presa pelos crimes, considerando o abalo da opinião pública, o clamor social, a gravidade do caso e pelo fato de ela ser a líder da quadrilha identificada nas investigações", disse o promotor Paulo Lima.

Além disso, o promotor avalia que há possibilidade de intimidação de testemunhas. Segundo ele, alguns funcionários do Evangélico que prestaram depoimento relataram "temor" da médica, por estarem subordinados a ela no hospital. Quando foi posta em liberdade, a Justiça estipulou algumas medidas restritivas (entre elas, Virgínia não pode se aproximar das testemunhas), mas o promotor considera que a determinação não é suficiente.

Paulo Lima aponta ainda que, no período em que Virgínia esteve presa, as investigações foram "robustecidas" com novas provas. Ele considera a prisão da médica determinante para que as apurações continuem de forma efetiva.

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Além dos depoimentos das testemunhas, as investigações são feitas com base na análise de prontuários de pacientes que morreram na UTI do Evangélico. O promotor ressalta que as investigações têm o respaldo de uma equipe médica, especializada em medicina intensivista.

"São os médicos a dizer, com fundamentos científicos e com base em prontuários, dando conta de que as mortes eram antecipadas por procedimentos da equipe médica do hospital", afirmou.

O recurso foi deposto no cartório da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Curitiba. A partir disso, o juiz responsável determinará a apresentação, em no máximo 48 horas, do advogado de defesa da médica.

Com as duas argumentações, o juiz então irá decidir se acata o pedido do Ministério Público ou mantém a decisão de liberdade de Virgínia.

Sete mortes

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Na semana retrasada, a Justiça aceitou denúncia criminal oferecida pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) contra oito profissionais de saúde que são ou foram ligados ao Evangélico. Eles são acusados – cada um, a seu tempo – de envolvimento em sete mortes ocorridas na UTI Geral do hospital, entre 2006 e janeiro deste ano.

Segundo a denúncia do MP-PR, os profissionais da saúde assassinaram pacientes com o objetivo de "girar a UTI", ou seja, de abrir novas vagas no centro médico. Os óbitos ocorriam por meio da redução da ventilação mecânica ministrada a pacientes, combinada a medicamentos. Segundo o documento, os acusados agiariam como se tivessem o poder de decretar quais pacientes teriam o direito a permanecer vivos no centro médico.

Além de Virgínia, também foram denunciados por homicídio os médicos Maria Israela Cortez Boccato; Edison Anselmo da Silva Júnior; e Anderson de Freitas; e as enfermeiras Patrícia Cristina de Goveia Ribeiro e Lais da Rosa Groff.

Outras duas pessoas foram denunciadas pelo crime de formação de quadrilha - a fisioterapeuta Carmencita Emília Minozzo e o enfermeiro Claudinei Machado Nunes – mas elas não chegaram a ser presas.

Defesa

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O advogado de defesa de Virgínia, Elias Mattar Assad, disse que não acredita em uma nova prisão da médica. Segundo ele, a medida de recorrer da decisão de liberdade não passa de um "factoide" e seria um "ato injurídico".

"Tem que haver um motivo concreto para prender alguém, e, nesse caso, não existe nenhum comportamento que comprometa a acusada. Ela está na casa dela sozinha com um passarinho, não saiu, não falou com ninguém por telefone", afirmou Assad.

De acordo com o advogado, apesar do MP-PR ter afirmado que outras mortes podem ter sido ocasiondas pela equipe da médica, não existem fatos novos que possam amparar uma nova detenção de Virgínia. "O juiz fundamentou muito bem a liberdade dela [Virgínia], e eu creio que esse direito de responder em liberdade não muda mais, consolidou-se. E depois, não dá para entender por que só ela está passando por isso. Não é uma quadrilha? Então teria que ser todo mundo [preso]", concluiu.