Atrativos
Confira resultado de enquete informal feita com jovens e pastores sobre o que atrai a juventude:
Ação
O jovem pós-Vaticano II não mudou de todo. A mocidade quer fazer algo de concreto. O cristianismo tem de ser palpável. Mas ao contrário de discursos revolucionários, de escala mundial, a tendência é preferir ações locais e palpáveis. "Propor tarefas muito radicais assusta", observa padre Alexander Cordeiro Lopes.
Acolhida
"Sentir-se parte" e ter sua expressão de fé valorizada pela hierarquia é apontado como ponto de atração juvenil. Rejeição à espiritualidade de certos movimentos por parte de clero tende a gerar afastamento e decepção. "Muitos dos que retornam falam do medo de ter novas experiências negativas", diz Marcos Moura, da Arquidiocese de Curitiba.
Anticonsumismo
Marca entre as várias tribos católicas é a rejeição dos excessos da sociedade de consumo. O velho ser no lugar do ter vigora na maioria dos discursos, tal e qual em tempos idos.
Espiritualidade
A juventude de tendência mais politizada permanece no seio da Igreja, mas se nota uma parcela crescente de jovens que valoriza a família, adotando não raro o "namoro santo" valorizando a castidade e o retorno à piedade cristã. A oração ganhou fôlego por sobre as cartilhas ideológicas.
Território
Foi-se o tempo do "cada um na sua paróquia". Jovens católicos desfrutam da possibilidade de sair dos limites da sua comunidade e procuram grupos com os quais se identifiquem. Circular por igrejas era privilégio dos evangélicos, agora não mais.
Tolerância
Muitos jovens católicos são filhos de pais divorciados e podem se sentir desconfortáveis nos grupos quando o assunto é tratado com agressividade. De acordo com líderes, a atração pela tradição católica e o trabalho social da Igreja tendem a se sobrepor a esses problemas. (JCF)
Depoimento
Jaqueline da Conceição Belo, do Núcleo de Pastoral da PUCPR
"O que me mantém atuante na Igreja Católica?A possibilidade de tornar meu sonho pessoal e social possível. A cada dia que passa os resultados me mostram que quanto mais a gente sonha junto mais longe fica o que chamam de utopia.
No início eu era uma adolescente que acompanhava a mãe na missa e achava tudo muito chato. Mas quando descobri a Pastoral da Juventude entendi de fato a Igreja, me identifiquei com a proposta de construir uma sociedade melhor.
Um exemplo é o envolvimento de muitos movimentos juvenis católicos na sociedade civil de Curitiba e região, lutando por políticas públicas. Isso demonstra que a Igreja não está de olhos fechados para o que se passa no mundo.
Quanto aos jovens que estão deixando o catolicismo, acho que não existe como falar de uma fatia da população sem entender o contexto social em que vivemos. Não dá mais para negar que mundo está passando por uma crise. Não sabemos mais qual é a nossa identidade. Paramos para fazer tudo para estudar, trabalhar, sair com amigos, se endividar em lojas... Estamos muito preocupados com nosso exterior, com a roupa que meu vizinho está vestindo. Nos preocupamos com coisas que parecem ser tão importantes e esquecemos de olhar para dentro, de olhar para nossos valores de cuidar do nosso interior. É ali que podemos encontrar nossas raízes, o que realmente nos move...
A juventude é reflexo da crise que o mundo vive. A maioria dos jovens se sente vazio, inquieto e profundamente triste. Precisamos daqueles que já fizeram história. Atenção adultos, nós jovens precisamos a da assessoria de quem já venceu. Precisamos ser encantados com o que moveu os caras-pintadas. Precisamos que nos entendam."
Pluralidade
Depois do "chacoalhão" pontifical de Bento XVI
A Igreja não é nenhuma jovenzinha. Muito menos em se tratando de Pastoral da Juventude. Mas todo e qualquer fiel, presbítero ou religioso envolvido com esse setor cita a visita do Papa Bento XVI ao Brasil, em 2007, como um marco na "primavera juvenil católica". Foi um chacoalhão pontifical, depois traduzido no Documento 85 da CNBB, sobre o tema. Os efeitos são notáveis por ironia, tornou mais cristã a convivência de espiritualidades e movimentos.
"Tivemos de vencer os preconceitos", diz o padre Alexander Cordeiro Lopes, assessor do Setor da Juventude na Arquidiocese de Curitiba. Entenda-se por isso promover e garantir a convivência dos mais diversos grupos, sem passar por cima deles a máquina compressora. "Não existe uma única maneira de ser jovem nem de ser católico", ilustra.
A Igreja se tornou mais eclética. Aceitou a tribalização como uma marca do tempo. E entendeu que o jovem não seria, digamos, à sua imagem e semelhança. Fora da instituição, idem, esse efeito também pode ser notado. Cresce, por exemplo, o número de evangélicos não ligados a uma confissão, mas a várias são 14% da população segundo o IBGE. E também aqueles não contabilizados que transferiram o ímpeto religioso para as manifestações sociais.
Trata-se de um fenômeno holístico, manifesto em bicicletadas e nos ecoberrantes, para citar dois. "O interessante é essa variável. O Brasil não é menos religioso, é mais diverso. Essa mudança passa pelo jovem", reforça o economista Marcelo Neri, da FGV.
Tolerância
As pastorais ganharam ao assumir uma atitude mais tolerante. "As mudanças de perfil do jovem católico equivalem às mudanças do mundo. Gerou incômodo, é claro, mas não era um problema só da Igreja. Toda a sociedade enfrentou esse desafio", observa padre Alex, listando fenômenos planetários como o individualismo, o desencanto com a política e a busca de espiritualidade incluindo as religiões orientais.
O religioso festeja os novos sopros. Em vez de trocarem farpas, garante, jovens de movimentos diferentes ganharam com a convivência e inventam "um novo modo de ser Igreja". Uma dessas marcas, diga-se, é a despreocupação quantitativa. Segundo o sacerdote, o avanço contínuo dos evangélicos na casa de 7%, segundo a FGV não preocupa a rapaziada, que avalia ser mais vantajoso ver um amigo abraçar uma crença, seja ela qual for, do que se perder nas drogas. Evitar que isso aconteça é uma das grandes causas da juventude religiosa católica ou não. (JCF)
Rapazes e moças reunidos em roda, cantam ao violão uma música do padre Zezinho: "Eu venho do Sul e do Norte, do Leste e do Oeste, de todo lugar..." Muitos deles levam no peito uma cruz, como diz a canção. Essa imagem dispensa explicações trata-se da fotografia dos chamados "grupos de jovens", que pipocaram na Igreja Católica a partir dos anos 1960, na alvorada do Concílio Vaticano II, aquele que, no senso comum, "mudou tudo".
Os ventos de renovação da Igreja em meados do século 20, difícil negar, foram acima de tudo juvenis. A substituição do latim pela língua vernácula, o padre celebrando de frente para o público e a voz dada aos leigos atingiram, sobretudo, a camada de fiéis que se viam mais atingidos pelo chamado "mundo em transformação" da minissaia à pílula, passando pela Guerra do Vietnã, pelas ditaduras militares na América Latina e pelo avanço dos então aclamados "MCS", os meios de comunicação social.
É fato que o período áureo do "poder jovem" na Igreja não veio com a voz do vento ou com a dos Beatles. Foi fruto também do trabalho da chamada Ação Católica, nas décadas anteriores quando o método "ver, julgar, agir" tirou do comodismo milhares de jovens católicos dos quatro costados. Igualmente é fato que nada disso se resume a uma página do passado. Juventude e catolicismo permanece um assunto tão atual quanto a fome na África.
A cena da moçada em roda e do violão pode ser verificada em pelo menos 80% das paróquias brasileiras, de acordo com dados da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB. E foi conferida pela reportagem numa manhã de sábado (leia na página ao lado), em Curitiba, na véspera de um feriadão. Aqui e ali, desafiam-se as estatísticas que desde o início da década de 1990 apontam uma diminuição significativa de católicos no Brasil, particularmente na faixa que vai da adolescência aos chamados jovens adultos.
Evasão
A última pesquisa publicada "Mapa das Religiões" é da Fundação Getúlio Vargas (FGV), tem a chancela do conceituado economista Marcelo Neri e confirma aferições anteriores, como a "Religião e Sociedade em Capitais Brasileiras", assinada em 2006 pela equipe do sociólogo César Romero Jacob, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Dos 15 aos 39 anos, em duas décadas, a evasão da juventude na Igreja soma 1% ao ano, sendo mais expressiva em dois grupos sociais tão distantes que parecem separados por uma fissura tectônica os mais pobres e os mais ricos. A tendência foi verificada no Censo 2000 e, segundo os "porcentos", assim permanece.
Não é uma questão que cause eco nas catedrais informam em uníssono padres, líderes e jovens que participam em alguma instância das comunidades e movimentos católicos. Alguns dos consultados pela reportagem chegam mesmo a dizer que o catolicismo vive um momento de renascimento juvenil equiparado ao pós-Vaticano II.
A afirmação se baseia na mais antiga das ciências a experiência. Contam como prova a presença maciça de jovens católicos nas redes sociais, tuitando mais do que as contas de um rosário. E as impressionantes Jornadas Mundiais da Juventude, que chegam a reunir 2 milhões de participantes em idade de surfar e namorar. Em paralelo às estatísticas, tudo indica que há um fenômeno nem sempre quantificável pedindo para ser observado.
Jovens chegam à Igreja por "pistas próprias"
A juventude católica mudou de cara. A Igreja se deu conta disso. E reagiu. A começar pela nomenclatura. Na última década, o que se chamava genericamente de "Pastoral da Juventude" que tanto lembra os algo românticos grupos paroquianos dos tempos idos passou a ser denominado "Setor da Juventude", um guarda-chuva que abriga a pastoral e outros tantos movimentos eclesiais juvenis.
Faz sentido é preciso dar conta das mudanças que varreram as comunidades do país, agora nitidamente tribalizadas. "A nossa marca hoje é a pluralidade", resume Marcos Moura, 27 anos, coordenador da área na Arquidiocese de Curitiba.
O que Moura chama de pluralidade são os 17 movimentos diferentes que fazem parte apenas do setor arquidiocesano, atingindo diretamente mais de 50 mil jovens na capital e parte da região metropolitana. Apenas o grupo Canção Nova, calcula ele, agrega 5 mil participantes. Em maior ou menor escala, fenômeno semelhante se verifica em outras divisas.
Essas e outras cifras são festejadas pela Igreja. Pudera funcionam como um refresco depois de um período de secularização crescente e de conflitos ideológicos talibânicos entre a ala da práxis política e a da espiritualidade. Não causa espanto que os números recém-divulgados pela Fundação Getúlio Vargas não tenham motivado uma vigília sequer. "Diminuiu? Não parece", acha graça a estudante Jaqueline da Conceição Belo, 22 anos, uma das ouvidas para esta reportagem.
Variantes
Estariam os dados errados? Dificilmente. Em entrevista à Gazeta do Povo, o economista Marcelo Neri comenta que o maior fascínio das pesquisas sobre religião é a infinidade de variantes que comportam. Em outras palavras, em se tratando de fé, a leitura pura e simples de índices maiores e menores é um passo certo para o erro crasso. Uma dessas ciladas estatísticas é a impossibilidade de medir a intensidade e convicção dos fiéis, determinante na sua permanência numa confissão ou na fileira crescente dos "não crentes". "Temos de admitir que o catolicismo cultural está desaparecendo", diz o padre Alexander Cordeiro Lopes, 33 anos, assessor do Setor de Juventude da arquidiocese.
Padre Alex, como é chamado, toca no ponto. Não se sabe em que medida, mas muitos jovens de hoje não herdaram de seus pais a fé ou a imposição de seguir o catolicismo. Milhares se aproximaram da Igreja por pistas próprias e, por isso mesmo, ali tendem a permanecer. Curiosamente, era o que desejavam os jovens das paróquias de outrora. O mundo deu voltas e, nesse caso, sempre ao som das músicas do padre Zezinho. (JCF)
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