O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) liderou na tarde desta segunda-feira (17) a invasão da Fazenda Figueira, em Londrina.
De acordo com o movimento, 1.390 famílias - a maioria originária do acampamento Serraria do Viana, em Tamarana – estão na propriedade de 3,7 mil hectares, localizada no distrito de Paiquerê. A fazenda é utilizada como um centro de pesquisa da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, de Piracicaba (Fealq), instituição ligada à Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com a direção do MST na região, a área está arrendada para terceiros e é cotada para desapropriação para reforma agrária em programa do governo do Estado e da Superintendência Regional no Paraná do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Ângela Pascoal, 41 anos, é uma das lideranças do MST na Fazenda Figueira. Ela trabalha no movimento na região há 18 anos e explicou que as 1.390 famílias pretendem ficar na área para trabalhar a terra com dignidade.
“Na verdade, esta é uma fazenda do Estado. Está no Paraná e foi doada para uma universidade de São Paulo. É uma área que já está sendo negociada com o governo do Estado e com o Incra, com o objetivo de fazer a reforma agrária. E todas as informações que temos dão conta de que a área toda é arrendada. Tem algumas famílias que trabalham aqui, mas a área é toda arrendada.”
A reportagem tentou contato com o escritório regional do Incra em Curitiba, mas ninguém atendeu aos telefonemas no início da noite de segunda-feira (17).
Surpresa
O administrador da Fazenda Figueira, José Renato da Silva Gonçalves, limitou-se a dizer que foi surpreendido pela invasão, pois a fazenda experimental tem índices de produtividade muito acima do exigido. Ele disse que estava, juntamente com a Fundação Luiz de Queiroz, reunindo documentação e informações para embasar um comunicado oficial.
Segundo funcionários, a fazenda tem hoje 6 mil cabeças de gado, a maioria de corte, e também gado leiteiro, em uma área de pastagem de 1.850 hectares. A propriedade também tem 350 hectares de soja, milho, trigo e sorgo.
Entrada tranquila
De acordo com Ângela Pascoal, a entrada dos militantes do MST na propriedade foi tranquila e a administração da fazenda indicou o melhor local para o acampamento, próximo da sede e com boas condições de abastecimento de água para milhares de acampados.
“O próximo passo será conversar com os proprietários. Esperamos um belo resultado e ficar por aqui, pois o povo tem a necessidade de terra para que as famílias possam trabalhar com dignidade, ter seu pedaço de terra. E também estamos mostrando para o governo que temos 9 mil famílias de sem-terra acampadas pelo Paraná. Essa área pode resolver a meta de assentar 1.390 famílias.”
Sirlene Lourenço da Silva e o marido Janir são de Londrina e estão acampados na Figueira. O sonho é ter um pedaço de terra. “Para vir, cada um se virou como pode. Quem não tinha locomoção veio de caminhão. A gente só quer um pedaço de terra, sem invadir o espaço de ninguém, sem tomar nada de ninguém. Nos disseram que essa terra está legalizada e fomos convidados a vir”, reforçou Sirlene.