Dois meses após a mudança nos limites de velocidade nas Marginais do Tietê e do Pinheiros, dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mostram queda de 36% nos acidentes com vítimas - mortas e feridas - nas duas vias expressas. Houve redução nos índices de congestionamento tanto nas Marginais (8%) quanto na cidade com um todo - 6%. Especialistas alertam, porém, que a redução pode estar ligada à crise econômica.
Segundo eles, com o desaquecimento da economia, parte da frota de veículos deixou de circular nas ruas da cidade. Já a gestão Fernando Haddad (PT) atribui os dados à política de redução dos limites de velocidade, para o padrão de 50 km/h, adotada há oito semanas.
A comparação da CET é entre 20 de julho e 13 de setembro, com o período equivalente do ano passado. No horário de pico da manhã, a lentidão média nas duas Marginais somadas foi de 19,4 quilômetros, 11% a menos do que os 21,8 km de congestionamentos registrados no mesmo período de 2014. Já no horário da tarde, das 17 horas às 20 horas, a extensão média dos congestionamentos caiu 14%, de 47,7 km em 2014 para 40,9 km este ano.
A apresentação da CET a que a reportagem teve acesso mostra, por outro lado, aumento de congestionamento nas Marginais fora dos horários de pico - entre 10 horas e 17 horas - de 13,5 km para 14,5 km. Como consequência, na soma de todos os horários monitorados, a redução foi de 24,5 km para 22,6 km - 8%. Como esses dois corredores respondem por cerca de um terço dos congestionamentos da capital, os reflexos foram sentidos no restante da cidade, segundo a Prefeitura.
A extensão média da lentidão no Município no pico da manhã caiu de 71,5 km para 62,6 km neste ano - menos 13%. No pico da tarde, a redução foi de 124,4 km para 104,8 km (16%). Na média diária, a redução foi de 72,4 km para 68,1 km.
Embora tenha percebido uma queda no número de acidentes nas Marginais, o aposentado Siuji Takano, de 66 anos, diz que a lentidão continua como era antes. “No trânsito, a diminuição de velocidade não fez muita diferença. Está igual ou mais engarrafado ainda.” Ele afirma que sempre fica parado por volta das 19 horas.
Já para o gerente de infraestrutura Sandro Aparecido, de 42, a redução melhorou “bastante” o tráfego das Marginais e diminuiu os acidentes. “Passei a ficar, por dia, meia hora a menos parado no trânsito.”
O advogado José Luiz, de 57 anos, também percebeu mais fluidez nos últimos dois meses. Para ele, o problema ainda são as motos, que não respeitam a velocidade. “Diminuiu o engarrafamento porque você aproxima mais os carros e aumenta a quantidade de veículos na via.”
O técnico eletrônico Roberto Rodriguez, de 51, reclama só do engarrafamento ao meio-dia e nos horários de pico. “Para quem tem de usar todo dia ainda é muito ruim. A Marginal não tem jeito”, afirmou.
Técnicos ouvidos pela reportagem ainda fazem ressalvas à relação direta entre a política da gestão Haddad e os números observados pela CET. “Sem dados sobre o volume do tráfego, a quantidade de carros percorrendo as vias, não é possível concluir que a redução das velocidades seja o único fator para se chegar nesse resultado”, explica o professor de engenharia de trânsito Creso de Franco Peixoto, da Fundação Educacional Inaciana (FEI). “Do ano passado para cá, entramos em um período de resfriamento da atividade econômica, o que resulta em menos viagens e, como consequência, volume menor de veículos”, afirma.
A justificativa da gestão Haddad para adotar a medida foi reduzir os acidentes de trânsito, que registram alta desde 2013. As duas Marginais tiveram 184 acidentes a menos, na comparação dos dois períodos - foi de 743 colisões para 554. A relação entre as colisões que deixaram vítimas (feridos e mortos) e o total de acidentes também caiu. Do total de 2015, 25%, ou 140, tiveram vítimas. Dos 743 casos no mesmo período do ano passado, 29,6%, ou 220, tiveram vítimas. Levando em consideração só os acidentes com vítimas, a redução entre os dois períodos foi de 36%.
“Quanto menor a velocidade, menos a energia cinética envolvida. A redução dos limites tem relação direta com a queda de acidentados. São menos mortes e menos sequelados na cidade”, diz o diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Dirceu Rodrigues Alves Júnior. “O que chamamos a atenção é que, mesmo assim, o número ainda é alto.”
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