Depois de prestar esclarecimentos na Polícia Federal do Rio, o chefe de Polícia Civil, Alan Turnowski, chamou o delegado procurado na megaoperação desta sexta-feira (11) de traidor. Foragido, Carlos Oliveira já foi considerado seu braço direito, quando foi subchefe operacional da Polícia Civil.
"Para mim, desviou, é traidor. Policial que pega uma arma e vende pra bandido é pior que bandido", resumiu Turnowski, que lembrou que, na época em que o tirou do cargo, havia feito uma "mudança ampla na cúpula da Polícia Civil". Ele afirmou ainda que o fato de Oliveira ter sido subchefe torna o fato mais grave. "O fato de ele ter sido subchefe torna o fato mais grave. Porque aí é uma traição muito mais próxima de você. Como pode vender arma para bandido que já alvejou os colegas?", acrescentou.
Sobre sua permanência no cargo, o chefe de polícia disse não ter porque deixar a função: "Isso depende do secretário e do governador. Não tem motivo para eu sair. Não é o momento de sair do cargo. Mas, se sair, saio com a consciência tranquila". Em entrevista coletiva na sede da PF nesta sexta, o secretário de Segurança Pública reiterou sua confiança em Turnowski.
Ele afirmou que foi chamado à PF para contribuir com as investigações. "Vim até aqui prestar depoimento, no sentido de esclarecer algumas questões para a Polícia Federal, que tem uma rotina diferente da Polícia Civil", disse ele, que, falou ainda que a situação, "para a instituição, é sempre ruim", e prometeu investigar os policiais investigados.
Como funcionava o esquema
A megaoperação da Secretaria Estadual de Segurança Pública e da Polícia Federal deflagrada no Rio na manhã desta sexta-feira (11) já prendeu 30 pessoas, sendo 22 policiais. A ação investiga o envolvimento de policiais com traficantes, milícias e a máfia dos caça-níqueis. Eles receberiam propina para passar informações de operações a criminosos e venderiam material apreendido. Entre as apreensões desviadas estaria parte do que foi encontrado no Conjunto de Favelas do Alemão, em novembro do ano passado.
Para chegar aos suspeitos, a polícia contou com a ajuda de informantes, escutas telefônicas, fotografias e filmagens. A ação conta com 580 agentes e visa cumprir 45 mandados de prisão e 48, de busca e apreensão, em bingos, residências e estabelecimentos comerciais. Com lanchas, agentes também fazem buscas na Baía de Guanabara atrás de corpos de possíveis vítimas de milícias. Entre os procurados, 30 são policiais civis, militares e delegados.
"O objetivo primário da operação é alcançar policiais que vazam informações a grupos de criminosos. Em 2009, uma operação tinha objetivo de prender um dos líderes da Rocinha. A operação vazou e o vazamento foi investigado. A partir de uma prisão, a PF conseguiu avançar na investigação o que gerou a Operação Guilhotina", explicou o superintendente da PF, Angelo Fernando Gioia, em entrevista coletiva na sede da PF nesta manhã.
Delegado envolvido
Em nota oficial, a prefeitura do Rio anunciou nesta manhã que vai exonerar o delegado Carlos Oliveira, que, há pouco mais de um mês, assumiu a subsecretaria de Operações da Secretaria Especial da Ordem Pública. Ele é um dos procurados na operação.
"Ele ja tinha saido da policia. A situação dele está posta e está muito ruim. O que mais interessou foi saber quem estava fazendo. Se vendeu um ou 10 fuzis, a gravidade é a mesma", disse Beltrame, que disse não saber especificar o que ele fazia.A delegada Márcia Becker chegou à sede da PF nesta manhã para prestar esclarecimentos.
Wla era titular da 22ª DP (Penha) durante as ações na Vila Cruzeiro e no Alemão, em novembro do ano passado, e já esteve à frente da Delegacia de Repressão a Armas e Entorpecentes (Drae) e da 17ª DP (São Cristóvão). No início da ação, agentes vasculharam armários das delegacias da Penha e de São Cristóvão. De acordo com a Secretaria, os agentes procuraram, sobretudo, materiais que podem reforçar as acusações contra os suspeitos.
O chefe de Polícia Civil do Rio, Alan Turnowski, foi chamado nesta manhã para prestar esclarecimentos sobre as investigações. De acordo com a Secretaria, a ação foi comandada pelo órgão e Turnowski pode ajudar nos trabalhos. Em entrevista, Beltrame reiterou a confiança em Alan Turnowski
Investigações
Segundo a Secretaria, a ação teve início em 2009, quando agentes tentavam prender o traficante Roupinol, comparsa do traficante Nem, na Rocinha. Na ocasião, policiais do estado do Rio atuaram junto com agentes da Polícia Federal de Macaé, no Norte Fluminense, depois de um vazamento de informações.
Com três testemunhas e um farto material, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, chegou a ir a Brasília pedir à chefia da Polícia Federal que fosse feita uma parceria entre as forças de segurança, já que a PF também havia participado da operação conjunta há quase 2 anos e seguia investigando o grupo.
Participam da ação desta sexta, além de policiais federais e agentes da Secretaria, a Corregedoria Geral Unificada e o Ministério Público Estadual.