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caos no Litoral

Chuvas causam três mortes no litoral. Desabamentos isolam cidades

Estragos causados pelas chuvas em Floresta, nas proximidades de Morretes | Walter Alves / Agencia de Noticias Gazeta do Povo
Estragos causados pelas chuvas em Floresta, nas proximidades de Morretes (Foto: Walter Alves / Agencia de Noticias Gazeta do Povo)

Foi confirmada pela Defesa Civil do Paraná a terceira morte em razão das chuvas que castigam o Litoral do Paraná. A vítima desta vez foi uma idosa moradora da comunidade rural de Floresta, em Morretes, que teve a casa invadida pela água, na sexta-feira (11), e morreu afogada. O prefeito de Morretes, Amilton de Paula, fez um apelo aos governos estadual e federal para que liberem recursos para a reconstrução do município. "Os prejuízos com estrutura de estradas, pontes, escolas e postos de saúde devem ser de R$ 8 milhões a R$ 10 milhões", diz o prefeito.

Entre as localidades mais afetadas estão, além de Floresta, os bairros Mundo Novo, Saquarema, Sambaqui, Morro Alto e Rio Sagrado. Segundo o prefeito de Morretes, a prioridade no momento é para socorrer as pessoas que ainda estão ilhadas e procurar pelos desaparecidos. "Nossa luta é para atender as necessidades básicas da população e para isso contamos com a solidariedade da população de outras cidades com a doação de cobertores, colchões, cestas básicas, roupas, agasalhos e qualquer tipo de mantimento", pede Amilton de Paula.

Sobre a expectativa para a reconstrução do município, o prefeito disse que não há um prazo estimado já que Morretes não possui recursos financeiros para arcar sozinho com todo o prejuízo. "Não temos expectativa de reconstrução com recursos próprios porque os estragos foram muito grandes. Desde já faço um apelo ao governador Beto Richa e à presidenta Dilma Rousseff que nos ajudem na reconstrução de nossa cidade".

A terceira morte no estado e primeira em Morretes ocorreu na comunidade de Floresta na sexta-feira (11), mas só foi confirmada pela Defesa Civil na tarde deste sábado (12). As outras duas mortes ocorreram após um soterramento em Antonina. A vítima de Morretes seria uma idosa, Maria Souza Lopes, que morreu afogada dentro de casa depois que a enxurrada invadiu sua residência. De acordo com a coordenadora da Defesa Civil no município, Elaine do Rocio, a região de Floresta foi destruída. "Não existem mais casas no local, foi tudo destruído", conta Elaine.

Assim como Paranaguá, Morretes já havia decretado situação de emergência na sexta-feira. Segundo o prefeito, após as avaliações da Defesa Civil pode ser decretado estado de calamidade pública nos próximos dias.

Mortes em Antonina

Duas pessoas morreram soterradas depois que um deslizamento de terra provocou o desabamento de casas em Antonina nesta sexta-feira (11), segundo o comandante do Corpo de Bombeiros de Morretes e Antonina, tenente Taylor Machado. Segundo o último boletim da Defesa Civil Estadual, o número de afetados pela chuva nas cidades do Litoral do Paraná chega a 21.268 pessoas. A chuva danificou 6.588 residências, deixou 8.090 desalojados e 706 desabrigados. Os bombeiros ainda realizam buscas por pessoas que estariam desaparecidas em Morretes.

"Além da chuva de sexta-feira, houve um segundo evento na madrugada de sábado que afetou o município. Casas ficaram com água até o telhado, bombeiros perderam viaturas e muitas casas foram destruídas", explica Machado. Ele contou que postes de iluminação e casas foram completamente arrastados pela enxurrada.

O Colégio Estadual Rocha Pombo, que fica no Centro de Morretes, chegou a abrigar mais de 600 pessoas, mas pouco mais de 30 continuavam no local às 15h, depois que a chuva parou.

O serviço de telefonia fixa só começou a ser normalizado no município por volta das 14h30, assim como o abastecimento de água e a energia elétrica. Segundo o tenente, o serviço de telefonia celular continuava inoperante até a tarde deste sábado.

Governador garante apoio aos afetados

O governador Beto Richa afirmou, por meio de nota, que o governo estadual não vai medir esforços para fazer o atendimento da população atingida pelas enchentes e deslizamentos em Morretes e Antonina. "Todo governo está mobilizado para enfrentar esta grave situação. Ficaremos na região o tempo que for necessário para restabelecer as condições de vida dos moradores", garante o governador.

O governador convocou membros do governo para uma reunião de trabalho neste domingo (13). Na pauta do encontro estão as ações para atender as vítimas das chuvas no Litoral. Richa quer estabelecer estratégias para diminuir os problemas enfrentados pelas populações de Morretes e Antonina. O encontro acontece no Palácio das Araucárias, às 11 horas.

Após visitar as áreas atingidas, Richa declarou que o principal objetivo do governo é "prover segurança para as famílias atingidas e promover a recuperação das ligações rodoviárias entre as cidades do litoral e a capital". Para ele, "em regiões com risco de deslizamentos, uma das primeiras ações é rever a ocupação do solo".

Comunidade fica isolada por 24 horas

Desde o início da manhã, equipes do Corpo de Bombeiros fazem o resgate de moradores da comunidade rural de Floresta, pertencente a Morretes, localizada no km 18 da BR-277. Muitas casas da vila foram levadas pela força da enxurrada e até o Posto de Saúde do local foi destruído. A única forma de chegar à comunidade é de helicóptero. Os moradores estão sendo retirados e levados até a rodovia e depois encaminhados para o Centro de Aprendizagem e Integração (Caic), em Paranaguá, onde recebem alimentos.

Os primeiros bombeiros chegaram ao local, por terra, ainda na sexta-feira, mas com a chuva que atingiu a região na madrugada não conseguiram retornar e permaneceram no local durante toda a noite, junto com os moradores. Os sobreviventes contaram que só não foram levados pela enxurrada porque ficaram juntos, em um criadouro de cabritos, que fica em um ponto isolado das residências de Floresta. Juntos, aproximadamente 60 moradores ficaram esperando socorro só neste ponto da colônia.

Às 18h30, 144 pessoas já haviam sido resgatadas em diferentes pontos de Floresta e outras duas no Morro Inglês. Seis helicópteros – três dos bombeiros, um da Polícia Rodoviária Federal e dois particulares – realizaram as buscas, que serão retomadas na manhã de domingo. Segundo os bombeiros, é difícil precisar quantas pessoas ainda estão no local já que, a cada voo, novas pessoas são localizadas.

A moradora Edileuza Maria dos Santos, de 46 anos, contou que já houve enchentes no local, mas nunca alagamentos e quedas de morro nestas proporções. "Eu tinha casa às 14h10 e às 14h20 eu não tinha mais", conta. Segundo a moradora, o local ficou irreconhecível após a chuva.

Uma das primeiras a ser resgatada foi Maria Ermelina Alvez, de 68 anos. Ela estava visitando a filha, que mora na comunidade. Ela contou que choveu durante toda a sexta-feira (12) e houve muitos deslizamentos de terra, que arrastaram árvores. Ivanilde Xavier de Almeida, de 31 anos, que é moradora da localidade, disse que teve de se agarrar a um botijão de gás para não ser levada pela força da água.

A primeira tentativa de resgate aos moradores de Floresta ocorreu por terra, na manhã deste sábado. A reportagem da Gazeta do Povo acompanhou o trabalho dos bombeiros que tentaram chegar ao local por meio de uma trilha pela Estrada Novo Mundo, mas após 600 metros de caminhada tiveram que interromper os trabalhos por conta das fortes chuvas. Um grupo de oito pessoas conseguiu deixar a colônia após caminhar por cerca de duas horas nesta trilha. Roberto João Artei, de 57 anos, deixou a casa a pé ao lado da mulher e dos filhos quando achou que os helicópteros não dariam conta do resgate.

Outras seis pessoas utilizaram um barco para deixar Floresta. Os bombeiros ainda informaram que cinco pessoas não quiseram deixar o local, mas estavam seguras e tinham alimentos e água potável. No Morro do Marco, havia duas pessoas em um ponto bastante elevado da serra que não foram resgatadas porque os bombeiros não conseguiram chegar ao local. Eles garantem que as duas pessoas estão seguras.

Fornecimento de luz e água

Segundo a Companhia Paranaense de Energia (Copel), cerca de 3 mil domicílios em todo o Litoral estão sem luz desde a tarde de sexta-feira. Aproximadamente metade está localizada em Morretes, enquanto o restante das casas sem energia são de moradores de regiões de Antonina e Paranaguá. A Sanepar informou que o a previsão é que o abastecimento de água tratada fosse retomado ainda na noite deste sábado (12).

A energia foi restabelecida na cidade de Guaraqueçaba às 13h30, depois que aproximadamente mil domicílios ficaram sem luz por 23 horas. Ainda segundo a Copel, existe uma carga de postes e materiais para manutenção da rede elétrica que não consegue chegar até o local já que todas as rodovias de acessos estão interditadas. A empresa não soube prever quando a situação será normalizada, mas os funcionários da companhia vão continuar trabalhando durante a noite para tentar restabelecer o serviço.

Os deslizamentos em Antonina e em Morretes foram mais fortes, mas a situação em Paranaguá também é calamitosa. A rede de abastecimento foi atingida pelas enxurradas e o município está sem água potável desde sexta-feira. Até que a situação se normalize – o que pode levar dias – a prefeitura está providenciando carros-pipas em caráter emergencial.

Rodovias continuam totalmente interditadas

A rodovia BR-277 deve ter meia pista liberada a partir do meio-dia deste domingo, segundo previsão da Ecovia. Na noite deste sábado o tráfego já estava parcialmente liberado no sentido Morretes-Curitiba, mas apenas neste sentido. Mesmo com a liberação parcial, a recomendação é para que as pessoas não peguem a estrada em direção a essa região. Só devem ser liberados os veículos e caminhões que já estavam na estrada.

Com a trégua dada pela chuva na tarde deste sábado, as equipes conseguiram fazer a limpeza dos trechos mais complicados para que a rodovia fosse aberta de forma provisória. Ainda existe a possibilidade da rodovia ser fechada caso as condições climáticas voltem a piorar.

As equipes continuam trabalhando nem nos quatro pontos mais críticos na BR 277, nos quilômetros 13, onde o asfalto cedeu, 18 e24 onde houve queda de ponte e no 26 que está com a cabeceira comprometida.

A cidade de Antonina está totalmente ilhada. Quem está em Matinhos e Pontal do Sul consegue chegar a Paranaguá, mas os alagamentos e quedas de barreiras nas PR 508 e 407 interromperam o tráfego para Curitiba. Entrar em Morrentes também não é possível para quem vem de Curitiba devido a alagamentos próximos ao km 29, entrada da cidade.

A Serra da Graciosa foi liberada, de acordo com a Ecovia, mas com quedas de barreiras constantes, a estrada pode ser fechada novamente.

A BR-376, que liga Curitiba a Santa Catarina, continua interditada e não há previsão para liberação da estrada. Durante, a tarde deste sábado, o tráfego flui em uma faixa em cada pista entre o km 669 e o km 672 por causa de oito pontos com queda de barreira. Equipes da Autopista, concessionária da região, passariam à madrugada trabalhando para a liberação total da rodovia.

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Possíveis desvios

A recomendação da PRF e da Autopista continua sendo usar os caminhos alternativos. Os motoristas que precisam ir de Santa Catarina para o Paraná e estão na BR-101/SC podem sair da rodovia no km 113 (região de Itajaí), acessar a BR-470/SC (passando por Blumenau, Ibirama e Rio do Sul) até a cidade de São Cristóvão do Sul (SC) e pegar a BR-116 até Curitiba.

Quem estiver em Curitiba e precisam viajar a Santa Catarina podem fazer o caminho inverso: seguir pela BR-116 até o km 84 (São Cristóvão do Sul), acessar a BR-470/SC e chegar à BR-101/SC por Itajaí (km 113).Chove em todo o trecho da BR-376 e ainda não há previsão para a liberação total da rodovia. A concessionária e PRF orienta para que os motoristas evitem utilizar a rodovia, porque ainda há restrição ao tráfego, e sigam por caminhos alternativos.

Na rota alternativa para quem vai ao litoral de Santa Catarina, passando pela Serra Dona Francisca, o congestionamento de 30 quilômetros que começou na tarde de sexta continua. A PRF diz que o tráfego está fluindo com bastante lentidão em função do grande número de veículos. A viagem demora em torno de 12 horas.

(Colaboraram com a matéria: Danielle Brito, Vitor Geron, Isadora Rupp, Paola Carriel, Pollianna Milan, Rosana Felix, Aniela Almeida, Gladson Angeli e Juliana Gonçalves, especial para a Gazeta do Povo)

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