Mantidas as tendências dos últimos anos, em 2030 a população do Paraná estará ainda mais concentrada nos três grandes polos do estado – Curitiba, Londrina e Maringá –, ao mesmo tempo em que ocorre o esvaziamento da maioria dos municípios pequenos. Nas três principais aglomerações populacionais, viverão 5,3 milhões de pessoas, ou 44% do total estadual. Isso representa um acréscimo de 1 milhão em relação ao registrado no censo de 2010 pelo IBGE.
Confira a projeção feita para as cidades do Paraná
Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), com base nos dados do IBGE. O estudo leva em conta a taxa de fecundidade e mortalidade da população e os fluxos migratórios. O dado mais recente do censo indica que os “arranjos populacionais” respondiam por 40,7% da população do estado em 2010. Os arranjos representam as áreas mais integradas das regiões metropolitanas. Os de Curitiba, Londrina e Maringá contam com 18, 4 e 9 cidades respectivamente, segundo o Ipardes.
As projeções indicam ainda que, em 2016, a população paranaense chegará a 11,2 milhões e, em 2030, a 12 milhões. Mas em 231 dos 399 municípios haverá perda populacional no período. O diretor de pesquisas do Ipardes, Daniel Nojima, ressalta que apesar da redução nos pequenos municípios, estes continuarão abrigando uma grande parcela dos paranaenses. Cidades com até 20 mil habitantes somarão, no total, 2,3 milhões de pessoas, ou 20% da população. “Embora estejam perdendo representatividade, esse contingente ainda necessitará de atenção do poder público”, diz.
Dos 20 municípios com população acima de 100 mil estimada para 2016, a projeção é que todos tenham ganho populacional, com exceção de Foz do Iguaçu. Segundo o Ipardes, os 259,6 mil moradores projetados para ano que vem se reduzirão a 240,4 mil em 2030 (leia mais ao lado).
Nojima destaca que as tendências podem não se concretizar. “Pode haver mudanças de trajetória no meio do caminho. Se algum município pequeno receber um investimento grande, por exemplo, isso alterará o processo migratório”, explica. A professora do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Ângela Maria Endlich acrescenta que índices muito altos de variação populacional talvez não se repitam com a mesma intensidade, ainda que a mesma inclinação persista.
Segundo Ângela, a redução populacional é um fenômeno que ocorre em todo o Brasil e em outros países, em áreas não metropolitanas, especialmente as polarizadas por pequenas localidades urbanas em espaços com expressiva concentração fundiária e atividades econômicas com uso pouco intensivo de trabalho.
A presença de empresas que usam mão de obra intensiva está justamente por trás dos maiores incrementos populacionais observados recentemente no Paraná. Tunas do Paraná, Pontal do Paraná, Mauá da Serra, Itaipulândia e Cafelândia foram as cidades que mais cresceram entre 2010 e 2015. O Ipardes manteve essa tendência até 2030.
Exceção entre as grandes, Foz tende a perder população
Segundo o Ipardes, Foz do Iguaçu, a 7.ª maior cidade do Paraná, deve perder 7% da população entre 2016 e 2030. Os dados mostram que a cidade já perderia população em 2016: 259,6 mil, contra 263,7 mil em 2015, segundo o IBGE.
O presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social de Foz, Roni Temp, diz que os dados do Ipardes são importantes para o planejamento, mas ele diz que “torce” para que estejam errados. “Imaginamos o contrário até, impulsionado pelo turismo e pelo crescimento populacional dos últimos anos”, afirma. Entre 2010 e 2015, o número de habitantes da cidade cresceu 3%, contra 6,9% da média paranaense. Segundo ele, o município está recebendo investimentos de shoppings e redes hoteleiras.
Mas um estudo do geógrafo Fernando Raphael Ferro de Lima sobre a região da fronteira aponta para uma estagnação econômica em Foz em relação a outras cidades médias. A pesquisa dele aponta que Ciudad del Este, no Paraguai, atraía grande contingente de trabalhadores de Foz, o que poderia colocar a cidade paraguaia como centro econômico. Mas a falta de políticas específicas para a fronteira e a falta de formalização do mercado de trabalho são obstáculos a serem superados. (RF)
Cidades que vão crescer precisam se preparar, diz especialista
Em 2030, o Paraná terá 23 cidades com mais de 100 mil habitantes, contra 20 atualmente. Segundo a projeção populacional do Ipardes, entrarão no grupo Fazenda Rio Grande (na Região Metropolitana de Curitiba), Sarandi (Região Metropolitana de Maringá), e Francisco Beltrão (Sudoeste). Para a professora do Departamento de Geografia do câmpus de Francisco Beltrão da Unioeste, Silvia Regina Pereira, a presença da Unioeste e da UTFPR na cidade contribui para o desenvolvimento. “Há muitos estudantes que vêm de outros estados, assim como muitos jovens que deixam as propriedades rurais dos pais e não têm vontade de voltar aos municípios de origem”, diz. Além dos alunos, as instituições atraem muitos trabalhadores qualificados, diz ela. Silvia ressalta que o crescimento de Francisco Beltrão tem ocorrido desordenadamente, o que levou a cidade a se espalhar horizontalmente, com vários vazios urbanos. “Isso, que está mais ligado a uma ótica imobiliária, causa uma série de problemas, especialmente no gerenciamento do transporte coletivo.” Segundo ela, muitas linhas de ônibus param de circular às 20 horas, o que impede estudantes e trabalhadores das universidades de retornarem para casa com transporte público. Como o transporte público não funciona da maneira ideal, o número de carros que trafegam nas ruas da cidade é alto, diz Silvia, o que vai demandar cada vez mais investimentos na gestão de tráfego. “Esse planejamento precisa ser feito desde já”, afirma. (RF)
Planejamento
Segundo o diretor de pesquisas do Ipardes, Daniel Nojima, o Ipardes pretende aprofundar as análises sobre a projeção populacional para 2030, para identificar faixas etárias e outros detalhamentos dos processos migratórios. Mas ele ressalta que os dados disponíveis já podem nortear as políticas públicas regionais. Para a professora do Departamento de Geografia do Campus Francisco Beltrão da Unioeste, Silvia Regina Pereira, o poder público precisa pensar em reforma urbana e agrária, sob pena das grandes cidades sofrerem com os efeitos do inchaço populacional, como violência e falta de serviços públicos.
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