Passageiro é aquilo que não é permanente. Estar de passagem é necessariamente transitório, efêmero. Não dura. O andarilho é quem vaga, o errante, o vagabundo. Passa e não fica. Antípoda do sedentário em seu significado mais profundo: não apenas aquele que deixa de se exercitar, mas sim quem finca raízes, constrói. Cidades, aliás, foram erguidas sob esse espírito, quando o homem deixou de vagar para ficar, abandonando o nomadismo. Foi a partir daí que se construiu a civilização. E que foi possível, muito tempo depois, surgir o homem dotado de direitos e deveres o cidadão, aquele que mora na urbe.
Embora a semântica seja veemente em privilegiar os aspectos positivos do ficar em detrimento do passar, nem sempre isso é óbvio no recente urbanismo. Seduzidos pelo status do automóvel e diante do dilema de resolver os congestionamentos, muitos planejadores das cidades decidiram transformar as ruas em espaços exclusivos de passagem. Proliferam viadutos, túneis e a retirada de vagas de estacionamentos para abrir pistas de circulação.
É claro que as vias não devem deixar de cumprir sua função primordial de ligar dois pontos com eficiência. Mas é a possibilidade de parar que cria vida em uma cidade. Isso propicia o florescimento do comércio; faz que os clientes apareçam e circulem.
Reparem no contrário: ruas sem estacionamento nas laterais afastam empreendimentos aqueles que fincam raízes e buscam construir algo. Imóveis perdem valor e o entorno tende a se degradar. Carros passam. E as pessoas não ficam. Além disso, não raramente essas ruas viram pistas de alta velocidade, com automóveis circulando próximos das calçadas e dos pedestres, colocando-os por vezes em risco. Os carros estacionados, nesse sentido, são um anteparo de defesa do pedestre.
Curitiba não escapou da tentação de buscar a melhoria do fluxo do trânsito usando a estratégia de transformar ruas em vias de passagem exclusiva. A aparente solução, porém, caminha a passos largos (ou melhor, transita em alta velocidade) em direção ao esgotamento. O fim das vagas de estacionamento e o estreitamento de calçadas têm sido insuficientes para abrir espaço ao crescimento vertiginoso da frota.
Além disso, transformar o lugar em que se vive numa grande via rápida contraria a lógica que ergue a civilização. Uma boa cidade não é um lugar de passagem. É onde se deseja ficar.