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Saúde

Cientistas brasileiros obtêm leite de vaca que não dá alergia

 | Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo/Arquivo
(Foto: Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo/Arquivo)

Caravela, uma vaca mineira, permitiu que Túlio Madureira, de 30 anos, um produtor de queijo artesanal que não podia tomar leite, recuperasse um pouco do gosto pela vida. A vaca produz um leite diferente, que não faz tão mal para o sistema gastrointestinal. Pensando em quem tem problemas como o de Madureira, uma pesquisa tenta criar mais Caravelas pelo país.

Madureira não está sozinho. Os problemas relacionados ao consumo de leite são comuns. Cerca de 2/3 da população mundial, segundo dados da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, possui deficiência da enzima lactase. É ela a responsável pela quebra da proteína lactose, presente em laticínios.

Sem a lactase, um copo de leite se torna um “problemão”. Esse açúcar se acumula no intestino, o que significa casa, comida e roupa lavada para bactérias, que se multiplicam, causando problemas como gases e diarreia. No Brasil, cerca de 25% das pessoas tem algum grau de deficit ligado à enzima.

Entre refluxos e indisposições intestinais, um médico encontrou três úlceras no esôfago de Madureira, quinta geração de uma família de produtores de queijo. O leite era o provável culpado. Por quatro anos, o consumo de laticínios parou. Até Caravela.

A vaca era da raça gir leiteiro, que, segundo Aníbal Vercesi, pesquisador do Instituto de Zootecnia de São Paulo, pode produzir leite sem ou com pouca proteína betacaseína tipo A1. Isso tornaria o líquido mais saudável, ou seja, com menos chances de causar problemas alimentares.

Partindo do princípio que o leite com betacaseína tipo A2 é menos alergênico, um estudo do Instituto de Zootecnia de São Paulo começou, a partir de inseminação de vacas da raça gir leiteiro, a criar animais que só produzem leite com esse tipo de proteína.

“Já está comprovado na área médica, que essa proteína causa um certo grau de inflamação na mucosa intestinal”, afirma Vercesi. Ele diz que uma parceria com a Unicamp acabou de ser fechada para realização de mais estudos sobre os efeitos desse leite na saúde.

Propriedades do A2

Se no Brasil o assunto ainda engatinha, outros países estão confiantes nas propriedades do A2. “Tem um investimento grande na Nova Zelândia”, diz Adriane Antunes, professora do curso de nutrição da Unicamp. Um exemplo disso é a empresa neozelandesa The a2 Milk Company, especializada em leite A2.

Mesmo com investimentos, os benefícios do leite podem depender de que efeitos na saúde estão em jogo. “Se fossem doenças relacionadas à hiperlipidemia [gordura no sangue que pode causar problemas arteriais], daria mais efeito tomar um leite desnatado”, afirma Antunes.

Também são necessários estudos mais profundos sobre o leite A2. “Não tem uma conclusão respaldada pela ciência de que dê tanto efeito assim”, diz a professora.

Leite faz bem?

Tomar leite faz bem? Para a professora da Unicamp, é um erro afirmar que o ser humano não pode consumir leite de outros animais.

Adriana, que é autora de um livro sobre os mitos do leite, diz que a enorme flexibilidade alimentar foi importante para sobrevivência e evolução da espécie humana.“É possível ter uma dieta equilibrada com boas fontes de cálcio sem ingestão de lácteos, porém é muito mais fácil atingir as recomendações diárias quando os lácteos estão presentes”, afirma.

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