Exercícios para o cérebro se popularizaram entre idosos que querem evitar o Alzheimer.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

A demência está em declínio, com o risco de se desenvolver a doença caindo 20% a cada década desde o fim dos anos 1970, de acordo com um novo estudo publicado na última semana na revista científica New England Journal of Medicine.

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É uma descoberta que pode ser difícil de acreditar, dada a iminência de uma avalanche de novos casos de demência no futuro próximo. Até 2025, somente o mal de Alzheimer privará 7,1 milhões de pessoas com mais de 65 anos de suas memórias, de sua habilidade de tomarem conta de si mesmas e de suas personalidades – um aumento de 40% em relação ao número atual. A Associação de Alzheimer dos Estados Unidos prevê que, até 2050, a doença custará US$ 1,1 trilhão.

Mas ambos os fatos parecem ser verdadeiros. O envelhecimento dos baby boomers (americanos nascidos nas décadas de 40 e 50) significa que os casos de demência vão aumentar para um pico histórico – o simples número de pessoas idosas que estão vivendo mais quer dizer que mesmo uma queda na incidência da doença não resolverá o problema, o qual cobrará um alto preço em termos financeiro e de saúde. Mas, apesar da percepção popular de que envelhecer significa ficar grisalho e começar a perder a memória, os novos dados sugerem fortemente que, ao longo das últimas décadas, o risco de desenvolver demência diminuiu para pessoas com pelo menos o ensino médio completo, aumentando a esperança de que seja possível evitar um dos riscos mais assustadores do envelhecimento.

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“Poderemos, daqui a poucas décadas, inverter o cenário? ... Derrame costumava ser a segunda maior causa de morte e agora é a quinta. Talvez possamos fazer o mesmo com a demência”, diz Sudha Seshadri, a professora de neurologia na Escola de Medicina da Universidade de Boston, que liderou o estudo.

O que o estudo não consegue responder é a próxima questão: por quê?

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Parte da melhora está relacionada a um melhor controle da pressão sanguínea e da saúde cardiovascular e a uma diminuição no risco de se desenvolver demência após um derrame, mas não toda. A queda foi impulsionada por uma diminuição nos casos de demência causados por problemas circulatórios; o declínio dos casos de Alzheimer não foi estatisticamente significativo, o que quer dizer que o resultado pode ser devido ao acaso. Seshadri planeja investigar mais a fundo os dados para tentar discernir quais fatores ambientais ou mudanças de estilo de vida podem explicar a alteração.

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“Precisamos entender o resultado como uma mensagem para redobrarmos nossos esforços, não para nos tornarmos complacentes. Estamos acertando em alguma coisa”, diz Seshadri.

Pesquisa

Seshadri e seus colegas examinaram os dados do Estudo do Coração de Framingham, uma pesquisa de longa-duração que tem uma célebre reputação em virtude de seu arquivo de históricos médicos. Os cientistas começaram a coletar dados de mais de cinco mil habitantes da cidade de Framingham, no estado americano de Massachusetts, em 1948. Nas décadas que se seguiram, os dados se mostraram uma mina de ouro e pesquisadores continuaram a complementá-los com informações sobre os descentes dos voluntários originais.

O estudo é mais conhecido por ter ajudado cientistas a estabelecer a relação entre doença cardiovascular e altos níveis de colesterol, pressão sanguínea e obesidade. Mas em 1975, uma série de testes de que os voluntários participaram foi expandida para incluir uma avaliação cognitiva.

O novo estudo mostra que o risco de desenvolvimento de demência está diminuindo, fornecendo a evidência mais forte até hoje de um fenômeno inesperado e que vinha sendo reportado esporadicamente em diversas pesquisas ao longo dos anos.

Há poréns. O estudo de Framingham não envolve uma população diversa, então resta ver se a tendência se mantém em outros grupos étnicos. O efeito só foi verificado em pessoas que completaram ao menos o ensino médio. Também não significa que o mesmo esteja ocorrendo em outras comunidades ao redor do mundo.

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Conforme a prevenção e o tratamento de doenças cardíacas e câncer melhoraram, há quem aposte em uma vida mais longa, ainda que comprometida por outros males. “Mesmo que a morte e os impostos permaneçam inevitáveis, câncer, doença arterial coronariana e demência podem não ser”, ponderam David Jones, da Escola de Medicina da Universidade de Harvard, e Jeremy Greene, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.