Na saída da escola, um grupo de alunos se abraça, entre choro e palavras de consolo. “A gente está sendo obrigado a ir para outro lugar e a gente não quer”, afirma Rembrandt Soares Santos, 14, estudante do 1º ano do ensino médio, do colégio Miss Browne, em Perdizes, na zona oeste de São Paulo.
A cada aluno que passava pelo portão e encontrava o grupo abraçado na calçada, a emoção ganhava reforço. “Não acredito que a escola vai fechar”, disse Andressa Almeida Silva, 17, estudante do 3º ano do ensino médio, enquanto era consolada por amigos.
A escola integra a lista de 94 colégios estaduais que serão “fechados” a partir de 2016 e que ganharão novas funções, como creches e escolas técnicas. A medida do governo Geraldo Alckmin (PSDB) tem encontrado resistência por parte de professores, pais e alunos, que vêm promovendo protestos desde o mês passado, quando anunciada.
Pela manhã, os alunos haviam feito uma festa de Halloween, após apresentação de trabalhos envolvendo diferentes séries, que acabou se tornando uma festa de despedida da escola. Estudantes e professores aproveitaram a reunião para fazer uma série de homenagens.
“A escola faz parte da nossa vida. Não tinha como não chorar com o fechamento dela. Todo mundo chorou, menino, menina, professores...”, conta a aluna Eduarda Cristina Domingos da Silva, 17, que cursa o 3º ano do ensino médio.
Rembrandt se emociona ao falar da escola. “[A medida] não nos abala apenas estruturalmente, pelo fato de termos que ir para outro colégio, mas emocionalmente porque aqui a gente se apoia, é o nosso grupo, e estão desfazendo isso”, diz.
Vinícius Reykariw, 16, estudante do 2º ano, critica o governo. “Fechar 94 escolas não vai ser solução para melhorar a educação. Precisa abrir mais escolas e não fechar. Um governador que fecha escolas e abre presídios, quer dizer, tenho certeza de que a educação nesse país não está certa”, afirmou.
Ainda assim, os alunos têm esperança de reverter a situação e evitar que o colégio seja “fechado”. “Faremos cartas, vídeos, protestos e um abaixo-assinado para mostrar ao governador a importância da nossa escola”, diz Rembrandt.
Para onde vão?
Procurada, a direção do Miss Browne se recusou a divulgar qualquer informação e disse que o destino dos alunos ainda não foi definido. “Essa situação já alterou toda a harmonia da escola. É absurdo, falta muita informação: para onde vão as crianças, é superlotado, não é?”, critica a administradora Talita Stone, 38, que aguardava sua filha no portão do colégio.
Talita havia conseguido uma vaga para a menina estudar no Miss Browne em julho deste ano. “Ontem, tivemos uma reunião na escola e não se falou em outra coisa [o fechamento da escola]. Os professores não queriam que isso acontecesse e eles acreditam que ainda é possível reverter. Eu espero que seja”, diz.
O medo de irem para salas superlotadas preocupa pais e alunos. “No nosso caso, só tem uma escola perto e ela tem problema de superlotação”, diz Vinícius. “Não quero ir para um lugar onde tem superlotação e onde a gente não se sinta bem na escola”, completou Rembrandt.
Pais continuam sem saber onde seus filhos irão estudar no próximo ano. Talita critica a “falta de transparência” com que a medida da reorganização tem sido feita. “Essa falta de clareza é que deixa as pessoas chateadas, se sentindo inferiorizadas pelo governo. Só uma sociedade ativa é capaz de intervir nessa educação carente que é a pública”, concluiu.