Todos nós que escrevemos temos algumas obsessões. Eu, por exemplo, sempre procuro usar o pronome "esse" seguindo a lição de que serve para recuperar o que já foi escrito. Foi no ginásio que essa ideia se fixou na minha cabeça. O professor Laverde dizia que o "esse" é um pronome que "olha para trás". Não sei se ele inventou esse macete. Só sei que funcionou muito bem.
No primeiro ano do ensino médio (antigo segundo grau), o professor Tadeu contribuiu com outra obsessão. Era imperativo (ele falava assim) que jamais falássemos ou escrevêssemos "irá fazer" ou "iremos estudar". O correto é "vou fazer" e "vamos estudar". A lição, como se percebe, é sobre o uso da forma analítica do futuro do presente. Temos a forma sintética (eu farei e nós estudaremos), essa era a sua predileta, e a forma analítica (eu vou fazer e nós vamos fazer). Ao contrário do professor Laverde, o professor Tadeu não era afeito a macetes. Mas tinha um temperamento terrível. E a lição funcionou muito bem.
Das lições até o presente, mais de duas dezenas de anos se passaram. E hoje trabalho em uma área na qual sou obrigado a me posicionar sobre determinados usos de palavras. Na medida do possível e do impossível, repasso o que aprendi dos meus mestres: o pronome "esse" olha para trás e o correto é "vou comprar" e não "irei comprar".
A profissão me obriga também a ler muitos textos. E invariavelmente me deparo com excelentes textos que não cumprem as duas lições tão claras e tão caras para mim. Vejo o "esse" e o "este" flutuando (ambos olhando para trás) sem alterarem o sentido pretendido e leio que os empresários do setor "irão participar" de uma reunião em Brasília. A língua escrita foi por esse caminho.
Lutar contra tanta evidência é dar murro em ponta de faca. E minha obsessão não me leva tão longe.
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