Todos nós que escrevemos temos algumas obsessões. Eu, por exemplo, sempre procuro usar o pronome "esse" seguindo a lição de que serve para recuperar o que já foi escrito. Foi no ginásio que essa ideia se fixou na minha cabeça. O professor Laverde dizia que o "esse" é um pronome que "olha para trás". Não sei se ele inventou esse macete. Só sei que funcionou muito bem.
No primeiro ano do ensino médio (antigo segundo grau), o professor Tadeu contribuiu com outra obsessão. Era imperativo (ele falava assim) que jamais falássemos ou escrevêssemos "irá fazer" ou "iremos estudar". O correto é "vou fazer" e "vamos estudar". A lição, como se percebe, é sobre o uso da forma analítica do futuro do presente. Temos a forma sintética (eu farei e nós estudaremos), essa era a sua predileta, e a forma analítica (eu vou fazer e nós vamos fazer). Ao contrário do professor Laverde, o professor Tadeu não era afeito a macetes. Mas tinha um temperamento terrível. E a lição funcionou muito bem.
Das lições até o presente, mais de duas dezenas de anos se passaram. E hoje trabalho em uma área na qual sou obrigado a me posicionar sobre determinados usos de palavras. Na medida do possível e do impossível, repasso o que aprendi dos meus mestres: o pronome "esse" olha para trás e o correto é "vou comprar" e não "irei comprar".
A profissão me obriga também a ler muitos textos. E invariavelmente me deparo com excelentes textos que não cumprem as duas lições tão claras e tão caras para mim. Vejo o "esse" e o "este" flutuando (ambos olhando para trás) sem alterarem o sentido pretendido e leio que os empresários do setor "irão participar" de uma reunião em Brasília. A língua escrita foi por esse caminho.
Lutar contra tanta evidência é dar murro em ponta de faca. E minha obsessão não me leva tão longe.
Partidos iniciam estratégias para eleições presidenciais de 2026 apesar de cenário turbulento
Congressista americana diz que monitora silenciamento da liberdade de expressão pelo STF
Com Milei na presidência do Mercosul em 2025, vitória da esquerda no Uruguai alivia Lula
China vai chegar a 48 mil km de trilhos de trens de alta velocidade, mas boa parte ficará ociosa