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Adilson Alves

Meninos pobres gostam de Bach

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Na opinião de uma leitora, que é pedagoga de um colégio público do Paraná, a minha coluna "O professor que fala certinho" infunde o preconceito por não respeitar a diversidade linguística. E a escola é um espaço em que a pluralidade deve ser respeitada e incentivada.

Pensei ter deixado claro que, sim, é importante o respeito pela variedade de língua usada pelos alunos. Mas não me defendo de uma possível falta de clareza. Apenas gostaria de falar um pouco sobre o que a leitora chamou de "pluralidade" – sem dúvida nenhuma, um bem que deve ser respeitado e incentivado, não apenas tolerado.

Um excelente exemplo de pluralidade é o trabalho do maestro João Carlos Martins, que teve a ideia "maluca" de apresentar música erudita a meninos e meninas pobres. Sabem o que aconteceu? Eles gostaram – mais que isso, aprenderam a tocar. E o que dizer do projeto "irresponsável" da Orquestra Sinfônica de Heliópolis? Gente pobre tocando violino! É o fim do mundo?

Não. Temos aqui dois exemplos da importância de se oferecer alternativas. Não precisamos falar mal do Luan Santana, que é um rapaz talentoso no que faz, mas deixar claro que a música não se resume às pautas dos programas de auditório das nossas tevês abertas, que oferecem apenas um tipo de produto.

Na escola, é crucial assumirmos o risco e a responsabilidade de falar que, antes de Paulo Coelho se tornar um dos autores mais lidos no mundo, o nosso bruxo do Cosme Velho já havia escrito verdadeiras obras-primas da nossa língua. Que, no dia em que morreu o inesquecível Ayrton Senna, também perdemos Mario Quintana, um dos maiores poetas deste país.

A escola é, indubitavelmente, um espaço plural. Por isso, nossos alunos merecem aprender registros cultos da nossa língua, pois são um bem valioso. E merecem ler Machado, Guimarães, Lispector, Graciliano Ramos, Drummond...

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