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Uma leitora pergunta se o uso da locução "em função de" com sentido causal é correto. Segue exemplo colhido por ela: "O trânsito da capital ficou caótico em função da tempestade". Só para esclarecer: essa sentença nos informa a situação do trânsito (ficou caótico) e a causa (a tempestade). A locução "em função de" estabelece a relação causal.

Agora, vamos voltar à questão: está correto? A maioria dos instrumentos normativos da nossa língua condena esse uso – ou pelo menos faz algum tipo de ressalva, do tipo "não nos parece correto" e "evite usar". A locução "em função de" deve ser usada com sentido de finalidade, de dependência. Por exemplo: "Dona Maria era uma mãe dedicada, vivia em função dos filhos".

A locução "por causa de" seria adequada à construção mencionada pela leitora: "O trânsito da capital ficou caótico por causa da tempestade". Claro que podemos usar outras palavras para marcar a relação causal, todas elas sancionadas pelos nossos bons alfarrábios.

Mas acontece que não podemos ignorar o óbvio: o exemplo dado pela leitora não é a ovelha azul da família. E o próprio fato de nossos instrumentos normativos, dos mais novos aos mais antigos, condenarem tal uso é prova definitiva de que há muitas décadas essa expressão já é usada para estabelecer relação causal. Tanto na escrita quanto na fala.

A história de toda língua viva nos mostra que os "desvios" são uma constante, são regra e não exceção. Os falantes estabelecem uma rota não prevista e não aceita pelos manuais. Em um dado momento, as ovelhas azuis vão se tornando da mesma cor do padrão do rebanho e passam a ser aceitas.

Os que não toleram essa "rebeldia" podem ficar tranquilos porque não serão e não podem ser censurados por usarem a velha e boa locução "por causa de". Ela é correta e se ajusta bem ao enunciado.

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