• Carregando...

Ficou dito na coluna anterior que hoje seria enfocada a locução "na medida em que". Como adiantamos, trata-se de uma locução bastante produtiva no português contemporâneo, mas que também aparece cada vez mais na fala de pessoas escolarizadas. Aliás, estamos falando de um fenômeno que se restringe aos registros cultos do nosso idioma. Eis um exemplo recente, que apareceu na entrevista de uma advogada que falava sobre os 20 anos do Estatuto da Criança e do Ado­­lescente (ECA): "Trata-se, sem dúvida alguma, de uma importante ferramenta [o ECA], na medida em que protege a parte mais fraca de nossa sociedade". Aqui, fica claro que a locução está sendo usada para estabelecer uma relação causal: é uma ferramenta importante porque (pois, uma vez que) protege crianças e adolescentes.

Agora um exemplo de texto escrito: "Os incentivos à agricultura são bem-vindos na medida em que o Brasil depende fundamentalmente desse setor econômico". Novamente, temos uma relação causal: os incentivos são importantes PORQUE a agricultura é fundamental para o Brasil.

É bastante comum essa locução aparecer em construções nas quais se estabelece relação condicional, como se evidencia neste trecho: "As crianças só despertarão o amor pela leitura na medida em que os seus pais mostrarem que eles também gostam de ler, que amam o mundo dos livros". A ideia de condição é bem clara: se os pais forem leitores, as crianças serão leitoras; as crianças mostrarão interesse pela leitura desde que os pais também mostrem.

Confesso que algumas vezes tenho dificuldade de entender exatamente como está sendo usada essa locução: se indica proporção, se indica apenas causa, se indica condição. E desconfio que muita gente não a usasse tanto se soubesse que nossa língua tem outros recursos, outras possibilidades.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]