O assunto desta coluna foi sugerido por um leitor, a quem passo a palavra:
"Encaminho sugestão de assunto para sua coluna: nodar, nodoar, enodar e enodoar. O comentarista de esportes, na televisão, falando de determinado astro do futebol, disse que "... esse procedimento não nodoa sua carreira porque ..." Meu apofântico alarme piscou na hora: sem vacilar troquei mentalmente por enoda. Mas precavido fui aos dicionários... Para decepção de minha voraz sanha corretora, descobri que entre manchar com nódoas e encher de nós há mais opções do que possa supor meu vão e falso saber".
Igualzinho ao leitor, também fui aos dicionários. Não por causa de "nodoar" e "enodoar", mas porque as palavras "enodar" e "nodar" deram um nó na minha cabeça. Mas o Aulete me salvou. "Enodar" significa "fazer nó", "prender com nó": enodar um laço. Também encher de nós: "Ele enodou uma corda". O verbo "nodar" vai pelo mesmo caminho: atar com um nó. São dois verbos de uso raríssimo no português contemporâneo.
Os verbos "nodoar" e "enodoar" são mais produtivos, pelo menos no sentido figurado. Ambos significam produzir nódoa, manchar. E também desonrar, difamar, macular (sentido figurado). Essa última acepção, aliás, parece ter sido a usada pelo comentarista de que fala o leitor: "esse procedimento não macula sua carreira porque..."
Vamos aproveitar nossa ida ao Aulete e ver mais exemplos: "A falta de ética de diversos integrantes enodoa a instituição como um todo". E este de Rui Barbosa: "E ainda por cima nodoar-me com uma invenção azinhavrada".
Para ser coerente, é justo terminar esta coluna com mais uma nota do dicionário:
Apofântico: "Na lógica aristotélica, diz-se de qualquer enunciado verbal suscetível de ser considerado verdadeiro ou falso, em relação a uma correta descrição do mundo real".
Fico devendo, por questão de espaço, uma nota sobre "azinhavrada".
É com o leitor.
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