Questão enviada por uma professora: na escola em que trabalha, afixou-se um cartaz convidando pais e alunos para uma "festa julina". O evento seria realizado no mês de julho. A dúvida dela é se o adjetivo "julina" existe. Ela procurou em três ou quatro dicionários e não o encontrou. E daí?
Daí é o seguinte: primeiro, que os dicionários registram a palavra no masculino. Com efeito, não encontramos "julino". Segundo, o fato de uma palavra não estar registrada nos dicionários não significa que ela não exista, mas apenas que não está registrada. A existência das palavras tem a ver com o uso real, em situações concretas de comunicação, em que as pessoas envolvidas tenham domínio dos sentidos. O adjetivo "julina" parece que veio para ficar e ser usado, sobretudo nesses cartazes de escolas que fazem festas "juninas" em julho. Pelo fato de não estar registrado, sofre consequências. Por exemplo, o questionamento sobre sua validade.
Expandindo um pouco o assunto, é bom lembrar que o adjetivo "junina" (de "junino", palavra registrada) também não é aceito por muitas pessoas. Elas defendem o uso apenas de "joanina" (festa/s joanina/s), em clara referência a São João, o santo que batiza essa rica tradição que herdamos dos europeus. Em vários países da Europa, e isso há centenas e centenas de anos, a festa homenageia esse santo. Em solo brasileiro, foi reinterpretada como "junina", pois três santos bastante reverenciados pelos católicos são comemorados em junho: Santo Antônio (dia 13), São João (dia 24) e São Pedro (dia 29).
Para finalizar, anoto que "julina", talvez por ser uma tentativa de pensar de forma muito cerebral, escolar, uma questão já consagrada, obrigaria o uso de festa setembrina (novembrina, agostina...) caso quiséssemos montar um arraial em setembro. Estranho, não?
Por isso, independentemente do mês, prefiro "junina", que traduz adequadamente festas em que há pipoca, quentão, fogueira e quadrilha.
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