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Dias desses recebi e-mail de uma jornalista querendo saber qual era a pronúncia correta do substantivo "recorde". A razão da dúvida deve-se à existência de duas pronúncias, que ficam bem evidentes no telejornalismo brasileiro: RÉcordi e reCÓRdi. Uma parte dos jornalistas (parece-me que a maioria) interpreta a palavra como proparoxítona, com acento na antepenúltima sílaba. Outra parte a interpreta como paroxítona, com acento na penúltima silaba. Estou falando de acento de intensidade, é claro. Aquele que destaca a sílaba mais forte das palavras.

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Pois bem. O segundo grupo de jornalistas está de acordo com a lição dos nossos instrumentos normativos. A palavra "recorde" é paroxítona mesmo, assim como "acorde" e "concorde". E não é nada provável que algum brasileiro diga "CÔNcordi" e "Ácordi". Sendo assim, a pronúncia "RÉcordi" é errada, ponto final, tiau e bênção. Certos estão os jornalistas que dizem "reCÓRdi".

Fim da história?

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Claro que não. Uma coisa é reconhecer que a turma do "reCÓRdi" está correta. Outra é afirmar que o pessoal do "RÉcordi" está errado.

A maioria das lições normativas ignora um dado crucial para a compreensão do fenômeno: o substantivo "recorde" traz ainda o traço fonológico (de pronúncia) da língua inglesa. Ele está plenamente adequado à representação gráfica da nossa língua. Comporta-se sintática e morfologicamente como uma palavra portuguesa. Mas ainda não fez a transição fonológica completa para nosso idioma. E talvez nunca faça. Não é possível dizer que daqui a cem anos a palavra "recorde" terá perdido seu acento inglês, terá se dobrado por completo ao português.

Assim como em outros casos, seria bem produtivo não levarmos a questão para o terreno improdutivo do certo ou errado, mas sim para o terreno fecundo em que nossa língua floresce como um objeto de possibilidades.