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Uma leitora, gaúcha de Porto Alegre e que mora em Curitiba há três anos, questionou-me sobre um possível preconceito demonstrado em minha coluna "Uso da língua e variação", precisamente neste exemplo: "Tu não vai no jogo hoje". Ela interpretou como "uma gozação com os gaúchos" e lembrou-me que se trata de um uso informal.

Caso eu tenho sido preconceituoso, seguem desculpas públicas. Credite-se a falha a meus problemas de redação e não de concepção.

Mas acho que é incorreto pensar o exemplo dado como uso informal da língua. Porque construções do tipo "tu não está preparado para o cargo" e "tu precisa prestar mais atenção" estão definitivamente incorporadas à fala de milhões de brasileiros com alto nível de escolaridade, inclusive em situações formais. O dado escolaridade é extremamente importante para definirmos o que é "culto". Sendo assim, o mais correto é reconhecer que existem na fala culta brasileira três formas de uso do pronome de segunda pessoa singular (ou seja, pronomes usados para se dirigir ao interlocutor): você vai, tu vai e tu vais. Talvez haja outras.

O uso de "você" é o mais produtivo, o de maior alcance. Em nosso estado, por exemplo, excetuando regiões como o Oeste paranaense, o "você" é usado pela maioria das pessoas. "Você precisa cuidar mais da sua saúde" é um registro fácil de ouvir em Curitiba, Maringá, Paranavaí etc.

O uso do "tu" tem menor extensão geográfica, mas é muito produtivo. Além dos nossos vizinhos catarinenses e nossos quase vizinhos gaúchos, baianos, fluminenses (não sei se mais pelos cariocas), goianos e paraibanos usam esse pronome. Observação: a) nem todos os falantes e b) outras pessoas que não são dessas regiões também usam.

E aí temos, por ordem de ocorrência, estas duas formas de uso culto: 1) "Tu PRECISA controlar SUA/TUA raiva" e 2) Tu PRECISAS controlar TUA raiva.

Mais uma vez: estou me referindo à fala e não à escrita.

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