Há muitas coisas misteriosas entre o céu e a terra, da origem da vida às licitações públicas. Algumas delas é melhor que continuem nebulosas para dar um tempero especial ao nosso dia a dia; de outras se encarregam a polícia, as CPIs ou o tempo, que é paciente e implacável. Mas o cronista é o historiador das miudezas gosto de matutar em salas de espera sobre coisas desimportantes que, mesmo assim, não se explicam. Por exemplo: nas viagens de avião, sempre me intriga por que todos os passageiros se levantam desesperados ao mesmo tempo assim que o avião estaciona, num azáfama de recolher bagagens, de esbarrões, de apertos e de ginásticas de pescoço, para então ficarem todos desconfortáveis cerca de 15, 20, às vezes 30 minutos em pé, agarrados em sacolas, mochilas e maletas, esperando que a fila ande. É uma atitude francamente irracional, sob todos os cálculos e em qualquer método de desembarque. Todos chegarão à esteira de bagagens ou ao saguão do aeroporto mais ou menos ao mesmo tempo, tanto o que ficou sentadinho lendo uma revista sossegado quanto o primeiro que estala o cinto de segurança e abre o compartimento acima com a fúria e a determinação de quem foge de um incêndio.
Como eu mesmo já senti esse impulso e frequentemente, sem pensar, me vejo esmagado naquele corredor de dois palmos de largura à espera de que enfim abram a porta lá na frente, concluí filosoficamente que se trata de simples medo de avião. Um medo secreto, reprimido, sublimado a sete chaves, que explode no exato momento em que o avião, enfim, imobiliza-se no chão. Então irrompe o desejo atávico de tocar a terra em segurança, com os próprios pés, e sair o quanto antes daquela sofisticada lata de sardinhas em que estivemos confinados muito acima das nuvens fingindo que não estava acontecendo nada de extraordinário. Não sei se explica, mas às vezes basta uma razão qualquer para o tempo passar.
Mudando de saco pra mala, que cabeça desocupada não tem direção, outra coisa que não se explica é a espetacular recuperação do Guerrón, jogador do meu querido Atlético. Passou um ano inteiro sem conseguir driblar uma cadeira e em poucas semanas se tornou um furacão no ataque, com um rosário de gols. Não tem explicação, mas é desses mistérios maravilhosos que melhoram a vida, o futebol e, principalmente, a classificação do meu time. No caso dele, talvez haja uma, digamos, explicación, como diriam Los Três Inimigos, que leva o impressionante nome de Juan Carrasco, quem sabe o técnico mais original e surpreendente que já comandou o Atlético. Mas ele mesmo também não tem muita explicação, como sabe o torcedor, roendo a unha em todo início de jogo, para decifrar a lista de titulares que Carrasco parece tirar no palito. Bem, o futebol aceita tudo, desde que dê certo. Pois está dando certo. Coisas sem explicação.
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