Os meus sete fiéis leitores devem ter observado que este cronista anda dessintonizado com o mundo, nefelibata, comentando antes o quintal do que o mundo, vivendo mais de memória do que de primeira página. É verdade: por um bom tempo tirei férias radicais do noticiário. Dos jornais, só aquela repassada diagonal e impaciente, parando atento lá na lista dos filmes da semana; da internet, o mínimo indispensável (por exemplo, semana passada comprei pelo computador um par de chinelos em meia dúzia de cliques), e dos e-mails venho teclando só o "delete" contra a inacreditável invasão de mensagens não solicitadas. Noticiário de tevê, neca de pitibiriba prefiro sempre um bom DVD de antigamente. E vou me especializando em livrões de longo prazo, biografias e história, e aqui e ali um romance e um poema avulso, tudo dentro do meu velhíssimo e sempre frustrado plano sabático de fazer coisa nenhuma por obrigação durante um ano inteiro.
Mas súbito tive de torcer o miolo para me lembrar: qual é mesmo o nome da presidente da República?! Sintoma gravíssimo, que imediatamente atribuí à minha alienação deliberada do mundo em torno a outra hipótese para o lapso seria bem pior, que é bom nem dizer a essa altura da vida.
Preciso me atualizar. Mas para evitar o choque, recomeço devagarinho, sem afobação, curtindo o noticiário pelas beiradas. De passagem, soube que uma freira ganhou o direito de manter o hábito na foto da carteira de motorista. Tudo bem, mas e quando uma muçulmana pedir isonomia? Continuo achando que é um bom negócio o país continuar laico em todos os detalhes, e que a preferência religiosa mantenha-se firme e inviolável na esfera privada Dura lex, sed lex, igual para todo mundo. Em outra página, evangélicos pedem demissão de "ministra abortista". É o primeiro caso de ministro sincero na história do Brasil, num tema difícil em que chafurda o obscurantismo; em vez de se exigir demissão, ou a fogueira, que se discutam as ideias, que devem ser livres e abertas. Das curiosidades, vou ao futebol. Descubro que o Atlético prossegue o maior sem-teto do Brasil, enquanto Carrasco vem nos dando uma alegria atrás da outra, com um time que, sendo quase o mesmo, renovou-se inteiro e está crescendo semana a semana.
Da notícia boa, passo às ruins, que são sempre o filé-mignon do noticiário deste mundo perdido: o carnaval na Bahia, com aquela estranha aura de uma greve armada, ameaçando espalhar-se feito motim neste nosso país violento. E o pré-carnaval em Curitiba, que me lembrou, mais uma vez, o saudoso mestre Jamil Snege: "Em Curitiba não dá para fazer carnaval; se você pula na rua, vem o guarda e prende". Dito e feito, no Largo da Ordem, como o próprio nome diz: pularam e levaram. Agora selou-se um acordo pela paz, e que seja duradouro. Fim de férias, vou me readaptando à dura vida real.