Em poucos dias, fiz pela imprensa um curso completo de Steve Jobs, a quem conhecia aos fragmentos. Provavelmente já é o maior fenômeno cultural do século 21, pela fusão entre tecnologia, lazer, capitalismo, arte, comércio e cultura que ele representou. Não se trata exatamente de um pacote de "ideias", afinal redutíveis a límpidos aforismos de administração de empresas para pendurar em quadrinhos edificantes ("As pessoas não sabem o que querem, até que mostremos a elas o que elas querem."); trata-se de alguém que, com duas ou três traquitanas, interferiu concretamente na vida cotidiana do mundo inteiro, numa rapidez sem paralelo.
O meio ainda não é exatamente a mensagem, como queria Marshall McLuhan no célebre slogan cult dos idos de 1970. Sempre será preciso ter alguma coisa na cabeça para colocar no iPad ou transmitir no iPhone, ou os aparelhinhos serão pouco mais que tacapes. Mas o meio modifica radicalmente nossa relação com o tempo e com o espaço, a organização do trabalho, a natureza das relações sociais e profissionais, os métodos de produção de riqueza, o conceito de lazer e a própria noção de indivíduo e sua tábua de valores. É assunto demasiado para este pobre cronista. De qualquer forma, nunca um chavão foi tão verdadeiro: o mundo mudou com Steve Jobs.
Acompanhei de perto o advento do computador, modestamente (tanto quanto permitia a ditadura militar, que a golpes de IPI isolou o país dos perigos da informática por duas décadas). Datilógrafo desde os 13, passei os 46 anos seguintes diante de um teclado e uma folha em branco, exatamente como agora. Em 1983, Jobs apresentava o Lisa, o primeiro computador com tela gráfica e mouse (que inicializava em 36 segundos, mais rápido que um Windows em 2007, conforme provocação que assisti no YouTube). Aqui, só em 1991 consegui comprar um caixote inviável movido a DOS e tela verde, sem mouse nem HD, entrando pelas cavernas no fascinante mundo dos chips.
Depois, passei os 20 anos seguintes eternamente aprendendo Windows, o sistema operacional afinal vitorioso, porque liberado para qualquer máquina (enquanto Jobs insistia na exclusividade total dos seus aparelhos, muito mais caros). O Windows sempre foi um sistema ruim; atravessei noites e noites reformatando discos, matando vírus, ressetando a máquina, esmurrando a mesa mas graças a ele, criou-se uma monumental base de usuários prontinhos para, enfim, descobrir a qualidade do Mac, de preços cada vez mais acessíveis. Quando comprei este Mac em que escrevo agora, revivi a mesma emoção de vender o meu Lada e comprar um Monza. Tudo é incomparavelmente melhor. Mas parei no teclado físico. Não me adaptei a telas de toque; e, como leitor digital, prefiro meu velho Kindle, justamente por não ter internet e ninguém tentando me arrastar a todo instante ao buraco negro do Facebook e sua multidão assustadora.
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