| Foto: Reuters

Um assunto comum nas conversas sobre eleições, para quem não é fanático nem cabo eleitoral, é o assustador esvaziamento partidário brasileiro. Diante da sopa de letras que vemos e ouvimos, a infinidade de "pês" isso e aquilo que não significam rigorosamente nada, parece que o desprezo aos políticos ganha mais consistência. É até um recurso dos candidatos – muitos se apresentam como "não políticos", como "diferentes", como se enfim eles não fossem o que escancaradamente são. Mas esse desprezo que alimentamos é apenas um escapismo confortável. Ou, quem sabe, um erro profundo. Ruim com eles, infinitamente pior é nossa vida comum quando não há opções, quando a administração é entendida como apenas uma atividade "científica" e não fruto de escolhas que são, na sua substância, políticas. Ou, muito pior ainda, quando a simplificação mental nos leva a achar que, no descalabro geral, "só a força resolve" – o Brasil viveu duas décadas de ditadura e até hoje não se recuperou dela, afundado na prepotência, na incompetência, na falta de projetos ou no simples terror de Estado.

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Assim, estamos muito melhor que antes, apesar das aparências. As eleições deixam saudavelmente o país à flor da pele: o esforço publicitário dos candidatos de esconder e esconder-se no escancarado tráfego e tráfico de partidos que não significam coisa alguma é, paradoxalmente, de uma impressionante clareza didática. Está tudo diante de nós. A falta de nitidez partidária ou ideológica tem raízes na própria origem do Estado brasileiro e foi se fazendo em séculos de história; e, em tudo, reflete-se a realidade de um Brasil que se recusa teimosamente a educar-se. O estamento privilegiado da educação pública brasileira, em salário e condições de trabalho, que são as universidades federais, fizeram a mais longa e esquizofrênica greve da nossa história (sempre recebendo o pagamento em dia). Já os índices da educação básica e média (sem a qual não se consegue fazer nada mais adiante) continuam, como sempre, entre os piores do mundo.

A urbanização selvagem e o entendimento de que civilização é uma mera capacidade de consumo, um conceito que tem sido a grande marca do país desde que o Plano Real deu as condições mínimas para o Brasil parar para pensar, resultaram no que vemos. Não há nem ideias, nem partidos.

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É uma condenação eterna? Não – é uma escolha. E também, do lado de lá, um interesse poderoso com raízes bem localizadas. A esmagadora terraplenagem política que, montado na sua extraordinária popularidade, Lula promoveu no país em seus oito anos de governo rendeu rapidamente seus frutos – o mais vistoso deles está sendo apresentado em fatias pelo Supremo. O pouco que havia de alguma clareza ideológica, fundamental no debate político de qualquer nação, foi reduzido a pó no "populismo de resultados".