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Toda espera me dá uma sensação terrível de perda de tempo, mas é claro que estou errado – um pouco de contemplação zen do nada diante de nós é sempre um bom exercício. Recentemente fiquei empacado no aeroporto de Viracopos, em Campinas. Nenhum livro para ler e o quiosque do local não tinha nada que me interessasse. Em vez de aderir finalmente ao meu projeto contemplativo, pensei em abrir meu notebook, o que nunca faço em trânsito, só para testar pela primeira vez na rua essa maravilha wi-fi, que nos conecta com o mundo a um clique. Plaquinhas em toda parte anunciavam o tal wi-fi – o logotipo preto e branco até parece o clássico ying-yang dos meus tempos de bicho-grilo. Cidadão do Pri­­meiro Mundo, orgulhoso, abri o computador e imediatamente apareceram nada menos de quatro opções de conexão. Cli­­quei a da Infraero, patriota, e também para fazer justiça à gorda taxa de embarque embutida na minha passagem. A coisa foi azedando: abriu-se uma janelinha aparentemente gentil, e tive de preencher um cadastro, daqueles com endereço e CPF, RG – só faltava a fotografia e a im­­pressão digital.

Espírito pacífico, otimista por determinação genética, contemporizei: claro, eles precisam se defender dos escroques, dos hackers, dos vírus, dos ladrões em geral – a Infraero só quer saber quem é o sujeito que está tentando usar o sistema deles. Tudo preenchido e resolvido, cliquei em nome de usuário, cadastrei uma senha, e o mundo da internet vai se abrir. Digitei meus endereços de notícias de sempre, mas nada – uma janelinha branca advertia: A Infraero só permite acesso a sites do governo! Só faltou um bonequinho amarelo rindo, dançando e mostrando a língua para mim.

Achei que tinha errado alguma coisa, coçando a cabeça – é o que dá velho se metendo com essa modernidade; certamente me enganei em algum detalhe. Nada – é inacreditável, mas é isso mesmo. Eles tomaram meu cadastro, pegaram dados da minha vida pessoal sem nenhum aviso prévio, anotaram meu endereço, o telefone da minha casa, e em troca me deram acesso a sites do governo! Se ainda fosse acesso à lista secreta do Senado, mas essa eu nem tentei. O que tentei foram outras conexões: Telefônica, Vox, UOL – tudo pago. Tive uma sensação profunda de otário. O aeroporto não fornece ao seu usuário conexão livre à internet. Deve ser caríssimo, para eles, envolvidos nesse esforço de economia federal, manter gentilmente um acesso direto à banda larga aos tatus que esperam avião. Comecei a olhar em torno, ainda duvidando, e percebi que quem usava computador tinha sempre aquele modenzinho pré-histórico, de custo alto e ação limitada, pendurado na entrada USB. É um dos casos raros em que pedestre leva vantagem – se eu for ao Par­­que Barigui ou ao Mercado Mu­­nicipal tenho acesso gratuito à internet, mas não em aeroportos. Enfim me chamaram para o voo, que felizmente proíbe traquitanas eletrônicas.

Cristovão Tezza é escritor.

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