Vinícius de Moraes morreu no dia 9 de julho de 1980. Em Curitiba, a missa de sétimo dia aconteceu na Igreja da Ordem, numa cerimônia consagrada por Dalton Trevisan em sua Canção do Exílio:
Morrer ó supremo desfrute Em Curitiba é que não dá Com o poetinha bem viu o que fizeram
O Fafau e o Xaxufa gorjeando os versinhos
Na missa das seis na Igreja da Ordem
O trêfego Jaime batia palminha
Em Curitiba a morte não é séria
A missa não foi "cantada em falsete pelo Dom Pedro Fedalto", como conta o Vampiro. Foi cantada por Carmem Costa, escreveu no dia seguinte o jornalista Aramis Millarch, tratado pelo desafeto como Xaxufa: "Quando Carmem Costa, 60 anos, vestida de branco e com sua voz personalíssima, cantou Eu Sei Que Vou Te Amar, não houve quem não se emocionasse". Padre Gustavo Pereira oficiou a missa, com a liturgia escrita pelo expert em assuntos religiosos Rafael Greca de Macedo, o Fafau do Dalton.
Além de Carmem Costa, Vinícius foi interpretado pelas Nymphas, Celso (Pirata) Loch, mais o grupo Arco da Velha. Escreveu ainda Aramis Millarch que a crônica "A Música Popular entra no céu", de Carlos Drummond de Andrade, foi lida por Sansores França e Dante Mendonça.
Não foi só o poder de sedução de Vinícius que fez lotar a Igreja da Ordem. A cidade tinha uma dívida de gratidão com o falecido. Na semana do Natal de 1971, o bon vivant pediu e foi atendido com uma banheirinha cor de rosa no hotel e duas caixas de uísque para inaugurar gloriosamente o Teatro do Paiol.
Da missa de sétimo dia do diplomata, poeta e compositor que agora em outubro faria 100 anos de encantamentos, Dalton Trevisan e Aramis Millarch só não contaram da assombrosa intervenção de um bêbado durante a comunhão. Enquanto Rafael Greca segurava a patena do padre Júlio, aquela ébria alma do outro mundo provocava arrepios na Igreja da Ordem, a cantar os versos do poetinha:
Se todos fossem iguais a você
Que maravilha viver
Uma canção pelo ar,
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar,
A sorrir, a cantar, a pedir...