Com o seu mais discreto e irônico humor, o paranaense costuma dizer que os gaúchos buscam a perfeição em tudo o que fazem, da literatura ao futebol, da boa verve à força política. Só não sabem fazer com maestria três coisas: montar a cavalo, assar o churrasco e servir um bom chimarrão.
Não sem uma lasca de inveja, os paranaenses reconhecem ainda que o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) é uma das grandes criações daquele povo tão ou mais exibido que o Rafael Greca. Presente em quase todos os estados (menos na Bahia, imagino), o CTG é uma embaixada do Rio Grande do Sul, sejam as bombachas coloradas ou tricolores. Onde tem um CTG tem uma prenda tão bem fornida de origem quanto a Gisele Bündchen, enrodilhada num macanudo mais ansioso que anão em comício.
Para se ter uma ideia do alcance dos Centros de Tradições Gaúchas nos mais diversos rincões desse Brasil, diga-se que aqui em Curitiba a influência do sal grosso não poupa nem a colônia japonesa. Hitoshi Nakamura, japonês de nascimento e ex-secretário do Meio Ambiente de Jaime Lerner, nos domingos de folga se apetrechava de gaudério e ia dançar vanerão nos CTGs dos Campos Gerais. Por mais que se esforçasse, Nakamura não tinha o “tchê” dos mais bem pronunciados, mas quando ouvia uma gaita-ponto ficava mais faceiro que guri de bombacha nova.
Do que é bom, temos tradição em copiar, e melhorar, para depois sermos copiados
De resto, os CTGs fazem parte da cultura paranaense, principalmente no Sudoeste, levando na guaiaca as bandeiras do futebol. Numa tarde de domingo em Foz do Iguaçu, perguntei a um vivente se o Clube Atlético Paranaense estava ganhando ou perdendo. Ele me respondeu, com aquele sotaque fronteiriço: “Qual Atlético, tchê? O Clube Atlético de Carazinho ou o Grêmio Atlético de Pelotas?”
Despautério, diz um ditado gauchesco, é espirrar na farofa. Sendo assim, não seria nenhum despautério criar também um Centro de Tradições Paranaenses (CTP). Do que é bom, temos tradição em copiar, e melhorar, para depois sermos copiados. Uma ampla e concentrada mostra dos nossos bens culturais poderia vir a ser, por exemplo, a transformação do Parque Histórico do Mate (atualmente chamado de “Museu do Mato”, tal o abandono a que foi condenado) num Centro de Tradições Paranaenses: palco natural para danças folclóricas, grupo de teatro, atores, humoristas, músicos e compositores, livraria dedicada à literatura paranaense, exposições para os artistas nativos pintarem e bordarem, feira de artesanato e produtos de várias regiões, quiosques com acepipes e pingas de raiz, restaurantes das várias etnias, com um parque de diversões gastronômicas representando todos nossos sabores.
A poucos quilômetros de Curitiba e a caminho das Cataratas do Iguaçu (km 17 da BR-277), os 31,7 hectares do Parque Histórico do Mate seriam um magnífico cenário para o Centro de Tradições Paranaenses. Justamente agora que o governo do estado do Paraná pretende repassar a administração para a prefeitura de Campo Largo, onde está localizado. Há cinco anos fechado para visitação – e por falta de imaginação de como revigorar o nosso patrimônio histórico –, o antigo Museu do Mate poderia ser reciclado, redesenhado como um centro de lazer e turismo. Uma “Paranalândia”, presumivelmente autossustentável.
Aquele paranaense da nova safra, o que chegou agora e já está quase aculturado, há de botar um pé atrás: “Tradições no Paraná? Aqui elas não duram muito, veja o caso do Museu do Mate. Só se for um Centro de Contradições Paranaenses!”
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