Como se dizia no tempo da Casa Feres, Curitiba era "pequena por fora, grande por dentro". Cidade sem portas, essa terra de todas as gentes sempre foi um laboratório para o Brasil. Para o mercado publicitário, principalmente, um "mercado teste", quando muitos dos novos produtos a ser lançados eram antes avaliados em Curitiba.
Assim aconteceu com o cantor Ronnie Von no século passado. Para competir com Roberto Carlos, o "Pequeno Príncipe" foi testado num "Venha à vontade" do Clube Curitibano com a seguinte pergunta: "Quando Ronnie Von canta a música Meu Bem, ele deve jogar a franja pra esquerda ou pra direita?". Nove entre dez brotinhos do "Venha à vontade" responderam que o Ronnie Von devia jogar as melenas para a direita! Só uma delas votou na esquerda, o que ficou explicado mais tarde: a garota era fã do Geraldo Vandré, havia sido expulsa do Colégio Sion e namorava o Roberto Requião às escondidas da família Mello e Silva.
Ronnie Von não foi o primeiro produto testado em Curitiba. O pioneiro foi o Biotônico Fontoura, elixir ministrado na Boca Maldita como afrodisíaco. Depois vieram outros produtos que ficaram na memória dos curitibanos e, consequentemente, licenciados para o resto do Brasil: Q-Suco, Crush, Grapette (Quem bebe repete), cerveja "faixa azul", Cibalena, pomada Minâncora, Água Végeto (Para cuidar de seus machucados), farinha láctea Nestlé (Um apetitoso mingau sem levar ao fogo), Nescau (Para o futuro engenheiro, Nescau, quente ou frio, é gostoso, é sadio), Ovomaltine, bolachas Duchen (da Big Gincana Duchen no Canal 6), enceradeira Arno, condicionador de ar Springer Admiral, Frigidaire (nas lojas HM, "do Rio Grande ao Grande Rio"), lâmpadas Osram, televisão marca RCA Victor, Walita, Vulcabrás 752, tênis Bamba e Conga, camisa Volta ao Mundo, Simca Chambord, Rural Willys, Vemaguete, o Tigre da Esso, cera Parquetina, sabonete Lifebuoy (com Puralin), Rinso, Colgate, Bombril (testado em Curitiba pela primeira vez na antena da televisão) e, quanto às geladeiras Prosdócimo, quem não tinha era um curitibano desnaturado.
Naqueles anos Bossa Nova, quando até políticos do naipe de Jânio Quadros eram uma novidade, o lançamento da calça Lee em Curitiba causou sensação. Não pela origem do brim, mas pela origem dos vendedores: eram todos contrabandistas.
"O tempo passa, o tempo voa...", cantava o nosso saudoso Bamerindus, mas Curitiba mudou apenas de formato. Agora grande por fora e maior ainda por dentro, a cidade pode muito bem ajudar a presidente Dilma a economizar milhões com o plebiscito.
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