Os congestionamentos nas estradas não deixam mentir: quando chega o verão, todos os caminhos do Brasil Meridional levam a Camboriú, o maior balneário do Paraná. Aos trancos e barrancos, a cidade se transforma na capital do Cone Sul. Paulistas, paranaenses, gaúchos, catarinenses, paraguaios, uruguaios, argentinos, até as mais belas sereias fazem desse balneário o maior ponto de encontro dos mares do sul.
Oficialmente com 108.107 habitantes, na alta temporada Balneário Camboriú tem seus seis quilômetros de praia congestionados por quase um milhão de criaturas flutuantes, apenas na orla principal. Afora os congestionamentos permanentes nas vias de acesso, transversais e paralelas, que subvertem medidas de espaço e tempo: centímetros se transformam em horas e quilômetros numa eternidade.
Fôssemos andorinhas a planar de ponta a ponta sobre aqueles seis quilômetros de areia, veríamos uma paisagem humana de que nem mesmo os números estatísticos seriam amostragem mais perfeita. Vista do alto, na areia estende-se uma massa humana compacta e bizarra, considerando-se a indumentária mínima e o aspecto físico de seus componentes: maiôs e biquínis de todas as épocas e medidas, calções de banhos de todas as larguras, barrigas em profusão, um desfilar sem fim de dietas malsucedidas, cores de todas as estações, especialmente notáveis os tons pálidos do inverno passado.
Do Pontal Sul ao Pontal Norte, é relativamente possível catalogar as diferentes espécies do balneário. Pela ostentação e hábitos, os paulistas são os mais identificáveis: sempre com relógios e cordões de ouro, são eles que triplicam os preços dos apartamentos a cada temporada. Os gaúchos são os mais espaçosos: cada um deles ocupa o espaço na areia que normalmente uma dúzia de catarinas ocuparia. Em compensação, os catarinas se identificam pelo sotaque viste! e pelas piadas ressentidas que contam dos gaúchos.
Os paranaenses são tímidos e reservados, com costumes muito próprios. Dois distintos senhores sentados lado a lado, horas e horas sem trocar palavras, não escondem de ninguém: são de Curitiba, vizinhos de prédio no Bigorrilho. Duas elegantes senhoras escoltadas pela criadagem uniformizada em suas idas e vindas à praia, não deixam nenhuma dúvida: são duas madames do Batel a conduzir suas pérolas ao banho de mar. Na praia, a coisa mais parecida com um curitibano é uma tartaruga: para onde vai, leva a casa nas costas. Com legítimo sotaque leitE quentE, ele reclama para quem quiser ouvir: "Essa babel já não me seduz. De dia falta água, de noite falta luz. Saudades da Sanepar e da Copel!".
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