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Obar do Popadiuk é de tradição no Bigorrilho. Com a “piwo” (cerveja) e uma porção de “zrazy” (bolinho de carne à moda da casa) no balcão, sempre aparece o polaco Stacho para jogar conversa fora. Por esses dias, o assunto não podia ser outro: Jogos Olímpicos.

Atrás dos óculos de fundo de garrafa, o velho Stacho não gosta de cadeira, puxa um engradado vazio de cerveja e senta para conversar. Suas histórias são contadas e recontadas. Especialmente quando se trata do campeonato suburbano de futebol, torcedor que é do Combate Barreirinha. Desde piá, Stacho é um fominha de bola. Era num vasto gramado nos fundos de casa do amigo Kaliempa, onde pastavam vaquinhas e ovelhas, que se estendia a arena do Bigorrilho para os “trenes” da piazada. Sem traves, as balizas eram improvisadas com bostas de vaca: duas bostas num lado, duas bostas no outro. Quando a bola batia na trave, era bosta para tudo quanto é lado. Os meninos voltavam pra casa cheirando estrume.

Certa tarde, o beque deu um chutão para o mato e a bola voltou furada entre as grimpas de pinheiros. Dono da bola e do campo, o pequeno Kaliempa caiu no “chorradéirra” e foi reclamar à mãe, que naquele momento estava cozinhando a tradicional sopa chamada “kapuśniak”. Cozinheira zelosa, a “matka” não gostava de ser incomodada enquanto preparava o jantar: “Matka, furou a bola!”. Sem tirar o olho da panela, a mãe do Kaliempa gritou da janela: “Córe na roça e pegando um repolho pra jogar!”. E completou: “Mas colhe do repolho roxo, que tá bem mais firme!”.

Kaliempa foi um dos maiores (1m98) goleiros já vistos na suburbana e o Stacho, por sua vez, só não jogou no Combate Barreirinha por problema de visão: da grande área não enxergava o goleiro. Quando foi fazer exame de vista para obter a carteira de motorista, o examinador mostrou-lhe um cartão com as seguintes letras: P R L A W S K I T Z K S. “Você consegue ler isso?”. Stacho respondeu de bate pronto: “Ler? Eu conhecendo esse camarrada. Ele morando no caminho de Guajuvira!”.

“Além do futebol, qual modalidade olímpica lhe agrada mais, Stacho?” – perguntam da mesa ao lado. Com mais um gole da “piwo” e outra beliscada no “zrazy”, Stacho abre um sorriso de quem achou uma caixa de doces no baú da memória: “Briga de faca! Desde Polônia, meu avô era campeão de briga de faca no Cracóvia. Um fica espetando outro, dando pulinho pra desviar do espeto”. “Não seria a esgrima?”. “Assim sendo o nome olímpico. Ieu achando bonito aquele uniforme com máscara de tirar mel de abelha!”.

“E o judô?” – quer saber o curioso. “Uma pouca vergonha sendo: aquela mulherada do judô não sabendo pregar botão na roupa. Ficando tudo solto, aquele casacão pra fora da calça, amarado no barriga com pedaço de pano preto. E ganha quem faz cara mais feia que a outra”.

“Stacho” – pergunta um circunstante no balcão Popadiuk –, “quais os outros esportes você tem acompanhado?”. “Ieu gostando muito ainda do jogo de bolinha branca pra cá e pra lá”. “Tênis de mesa!”. “Também gosto de ver a corrida de cavalo pulando cerca”. “Hipismo!”.

Depois de duas “piwo” e a travessa de “zrazy”, o polaco Stacho nos confessou que ainda planeja realizar no Bigorrilho a primeira OlimPiwo. A olimpíada da cerveja, cuja principal prova atlética seria uma corrida de duplas carregando engradados completos, com a largada no Parque Barigui e chegada no Bar do Popadiuk. Ganha o ouro a dupla que beber todas as geladas do engradado, durante o percurso e no menor tempo.

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