Dizem os seguidores do Conselheiro Acácio (aquele personagem de Eça de Queiroz precursor dos livros de autoajuda) que os brasileiros deveriam aprender o idioma de Portugal antes de conhecer Lisboa. Assim não ficariam contundidos (magoados) ao ganhar de presente uma calcinha (cueca), ou mesmo quando um médico de além-mar receitasse uma pica (injeção) no serviço de urgência (pronto-socorro).

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Afora palavras, expressões e o acento (sotaque), portugueses e brasileiros falam a mesma língua quando se referem aos políticos. Como diria o Conselheiro Acácio, são todos da mesma laia. São eles os responsáveis pela marcha atrás (marcha à ré), pelo travão (breque) em que nos encontramos. Principalmente em Portugal, onde a troika (a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional) está deixando o gajo sem dinheiro até para entrar no rabo da bicha para pegar o cacete (entrar no fim da fila para pegar o pãozinho). O terremoto econômico europeu está causando maremotos de Viana do Castelo ao Faro, onde pretendem sequestrar até um bom tempo da aposentadoria dos portugueses. Por enquanto, a troika ainda não sequestrou a poupança. Está sequestrando apenas a esperança portuguesa, com certeza.

Sem querer nos gabar, em matéria econômica o lado de baixo do Equador tem muito a ensinar aos lusitanos. Nossos parentes por parte de língua nem imaginam o que já passamos nos tempos de guerra à inflação, ao desemprego e à recessão. Até mesmo no tempo da guerra propriamente dita. Poucos sabem, mas a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, a exterminadora de poupanças, seria uma boa correligionária de Getúlio Vargas.

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Quando os navios brasileiros foram torpedeados pelos nazistas, em represália o caudilho mandou congelar as contas bancárias dos italianos e alemães residentes no Brasil. A cada navio brasileiro afundado, era retirada uma porcentagem de 30% dessas contas, como reparação aos danos de guerra. Houve casos dolorosos. Dona Mafalda, uma italiana sexagenária de Curitiba, então moradora da Água Verde há mais de quarenta anos, casada e sem filhos, ficou sem um tostão depois do quinto navio brasileiro afundado. Suas economias de uma vida foram a pique.

Fosse o Barão de Itararé, diria que há algo mais sob o céu de Lisboa do que o odor de alho e óleo. Melhor descer o Chiado, passar pela Igreja de Santo Antônio e subir as ladeiras da Alfama para constatar, do alto do Castelo de São Jorge, que não há luminosidade igual à de Lisboa. Talvez a luz de Paris, mas só numa tasca (bar e restaurante) da Trindade para saber que a única diferença entre o pastel e o bolinho de bacalhau é que no Brasil tudo é muito mais caro.