O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, pode ter exagerado na “cangibrina”, mas não estava totalmente passado quando revelou ao mundo o terrorista de Colombo. Considerado como suposto líder de um grupo de amadores (“Eles são amadores, mas não conheço suicida experiente”, disse o promotor Rafael Brum de Miron), nada se sabia sobre Levi Ribeiro Fernandes de Jesus, de 21 anos, caixa de supermercado, assim como não se sabe se a “cangibrina” do ministro era mineira ou aqui de Morretes.
Os primeiros a desconfiar da presença de terroristas na Região Metropolitana de Curitiba, principalmente em Rio Branco do Sul e Colombo, foram os falecidos jornalistas Cem Gramas e Meio Quilo, dois dos nossos repórteres policiais (“carrapichos”) de maior peso. Isso no final do século passado, desde o massacre nas Olimpíadas de Munique, quando os jornalistas ainda viviam numa fase das mais românticas e ninguém se iniciava na profissão sem passar pelo trote da “calandra” – peça da rotativa com mais de uma tonelada que se mandava trazer. Ou a busca de alguma coisa inexistente.
Certa vez escolheram um “bunda mole” (era como os “carrapichos” tratavam os superiores) qualquer para chefiar a redação.“Chefia – gritou Meio Quilo com a mão no telefone –, mataram o guarda!”. “Onde, quando, como e por quê?” – perguntou o “bunda mole”, repetindo o chavão que se aprende na faculdade. “Ali no bar da esquina!”– respondeu o Cem Gramas. “Quero uma foto para a primeira página!”. Minutos depois, Cem Gramas e Meio Quilo estavam de volta com o autor do crime: “Taqui chefia, aquela que matou o guarda!”. E botaram na mesa do “bunda mole” uma garrafa de cachaça.
Como se sabe, “aquela que matou o guarda” era uma mulher que trabalhava para D. João VI e se chamava Canjebrina. Bêbada, ela teria matado um dos guardas de confiança da corte do Imperador. O fato não foi provado, mas a “cangibrina” levou para sempre a culpa de ter matado o guarda.
Repórteres de peso, Cem Gramas e Meio Quilo sempre suspeitaram da existência de uma célula terrorista na Prefeitura de Rio Branco do Sul, onde os prefeitos costumam ser cassados ou assassinados; e quem conheceu pessoalmente o ex-prefeito Bento Chimelli não tem a mínima dúvida: a sorte de Osama Bin Laden seria bem outra se estivesse sob a guarda armada do falecido dono de quase um terço das terras de Rio Branco do Sul, maior produtor de calcário do país e responsabilizado por dezenas de assassinatos na região. Chimelli foi dono de rádio, jornal e, além de ameaçar jornalistas de morte, só usava camisas e roupas íntimas vermelhas para se proteger dos infindáveis inimigos.
Em 1880, o imigrante italiano Francesco Busato montou em Colombo a primeira fábrica de louças artísticas e faianças especiais do Brasil. Sob o perigo constante das fornalhas trabalhando em temperaturas elevadíssimas, a fábrica fechou depois de um incêndio que destruiu suas instalações e maquinário. O fogo levou embora a economia da colônia e, para a posteridade, só restou a possibilidade de o sinistro ter sido obra de algum terrorista da época. A suspeita procede, pois o fim da integração do transporte coletivo entre a Urbs e a Comec foi o maior ato de terrorismo já ocorrido em Colombo e cercanias.
Os adversários acreditam que o ministro Alexandre de Moraes estava com “aquela que matou o guarda” quando mandou prender o terrorista de Colombo. Podia ter sido mais sóbrio, com algumas “cangibrinas” a menos, mas a verdade seja dita: não são poucos os terroristas acoitados na administração pública que ainda apavoram o povo da Região Metropolitana de Curitiba.
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