Quem estuda Administração na universidade, logo no primeiro ano do curso, é apresentado à teoria da motivação desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Abraham Maslow (1908-1970). Mais conhecida como pirâmide de Maslow, a premissa do estudo é que o ser humano tende a seguir uma hierarquia de necessidades: primeiramente precisa satisfazer as mais básicas para só então se motivar a subir ao degrau seguinte de seus desejos.
Embora seja mais usada na área de recursos humanos (para motivar os trabalhadores) e de marketing (para que as empresas saibam atender ao que o cliente quer), a teoria pode ser adaptada para explicar por que a política brasileira passa por uma crise ética aparentemente insolúvel.
Antes de chegar aos altos escalões do poder, porém, temos de voltar à teoria de Maslow. Segundo ele, o primeiro degrau da pirâmide é composto pelas necessidades de sobrevivência: respirar, comer, beber, ter um abrigo. Se um homem não tiver alguma delas atendida, não vai se preocupar em buscar o próximo nível a necessidade de segurança, seja ela dentro de casa (contra a criminalidade), no trabalho (ter um emprego estável e dinheiro suficiente para viver bem) ou em relação à sua saúde.
O terceiro degrau da pirâmide representa a necessidade social. É o desejo que todos têm de pertencer a uma determinada comunidade e de ser aceito e estimado por ela. É aqui que a pessoa pode passar a sentir-se parte de um determinado grupo político. O quarto degrau é composto pela necessidade de autoestima, de status. Nesse patamar da pirâmide, o ser humano quer se diferenciar dos demais. Ou seja, quer ser admirado e reconhecido. Por fim, o cume da pirâmide é a autorrealização quando a pessoa é o que gostaria de ser e se desenvolve como ser humano, do ponto de vista intelectual, religioso, artístico e/ou moral.
Mas o que isso tudo tem a ver com os escândalos da política? Bem, a falta de ética no governo e no parlamento ocorre, em grande medida, porque os políticos sabem que uma parcela significativa do povo brasileiro está muito mais preocupada em atender às suas necessidades básicas antes de pensar em moralidade pública. Esses políticos sabem que, apesar de estarem mergulhados em um mar de lama até o pescoço, vão se candidatar e ainda assim serão eleitos desde, é claro, que atendam aos anseios da parcela dos eleitores desvalidos.
Para o miserável, que não tem nem o que comer, um político que lhe garanta um prato de comida por dia será um herói ainda que seja corrupto. Já para o pobre, um governante que assegure um emprego estável e a possibilidade de ter uma casa própria vai ser muito elogiado, mesmo que não seja exatamente um modelo de retidão moral.
A preocupação com a ética na política começa a partir do momento em que a pessoa já está remediada e passa a ter desejos morais mais elevados. Os escândalos políticos continuaram a se perpetuar, sem que seus protagonistas sejam varridos da vida pública pelas urnas, enquanto o Brasil não for uma nação que assegure uma vida minimamente digna para a maior parte de sua população.
Fernando Martins é jornalista.