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Num mundo em que o individualismo e o consumismo se tornaram ideais, talvez o maior desafio de pais e professores seja transmitir às futuras gerações algum valor além daquele expresso nas cédulas de dinheiro. Especialistas das mais variadas áreas se debatem para sugerir saídas para a crise da família e da educação. Uma proposta original – não por trazer algo de revolucionário, mas sim por resgatar o conhecimento que o Ocidente acumulou em milênios – tem sido defendida pelo filósofo francês Luc Ferry, que hoje fará uma participação especial no 2.º Salamundo, encontro internacional de educadores que está sendo promovido em Curitiba.

Ferry recorre aos três pilares da civilização ocidental – o judaico, o cristão e o grego – para sugerir uma reinterpretação dos caminhos que a educação precisa retomar. E usa três alegorias para sintetizar a visão que cada uma dessas correntes trouxe ao mundo: a lei, o amor e os clássicos.

O respeito à lei é o legado judaico. Para os hebreus, os mandamentos de Deus Pai não podem ser questionados. Por analogia, as regras de pais e professores também não são passíveis de negociação com filhos e alunos. "Não" é "não". Trata-se da retomada da autoridade na família e na escola, algo que pode ser replicado à sociedade inteira. É claro que isso implica a necessidade de haver justeza nas normas – tal qual o conceito da lei judaica incorpora a ideia da justiça divina.

O amor é a herança da tradição cristã. Não apenas o carinho que se sente pelas pessoas estimadas. Inclui a compaixão e a caridade: tratar o próximo, seja quem for ele, como a si mesmo. É o princípio capaz de erguer uma barreira contra o individualismo e de promover a coesão de uma comunidade.

Finalmente, a reverência aos clássicos é o que se pode aprender com a Grécia Antiga. A educação grega era baseada em mitos transmitidos de geração em geração que se tornaram clássicos. Essa mitologia traz um mergulho profundo na natureza humana. Nela, heróis têm virtudes e se coroam de glórias. Mas também cometem erros como todos os homens e pagam por eles. Há ainda um forte componente moral nas histórias gregas: o mau tem de ser punido. Isso reaparece mais recentemente na história ocidental nos contos de fadas.

Luc Ferry tem ainda outro argumento para que os clássicos sejam lidos e ensinados aos filhos. Com eles, crianças e jovens podem aprender que há algo de mais valor que os bens adquiridos pelo consumismo: a beleza da literatura, da cultura, das artes.

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