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Agora que o ocaso do ano está se aproximando, é hora de darmos a nós mesmos um presente. É hora de parar. Parar e reparar nossos passos. Parar nem que seja por um breve instante. E olhar para trás. Ver as pegadas que deixamos no caminhar.

Haverá as superficiais. Essas o tempo tratará de apagar. Umas, num piscar de olhos. As demais, logo depois. Haverá também as profundas. Algumas firmes: marcas da determinação, da conquista de terreno. Outras, pisadas incertas. Sinais dos tropeços, de decepções. Haverá ainda as tensas. As de raiva. E as de tristeza. Não será um simples vento que as varrerá.

Mas por certo haverá ainda uma trilha que percorremos – por pequena que seja – de felicidade genuína. Se nos detivermos a olhar os passos que deixamos nesse caminho, é provável que vejamos não um par de pegadas, mas ao menos dois. E, se continuarmos parados para contemplar as marcas de nossa jornada de 12 meses, talvez percebamos que o caminhar que importa é aquele que compartilhamos com alguém.

E notaremos também que a trilha percorrida ao lado de quem estimamos poderia ter sido mais longa. Que poderíamos ter multiplicado esses instantes. Que, na louca correria da vida, muitas vezes deixamos os outros para trás. E que nem sempre nos dedicamos a alguém que nos pede atenção, nem que seja por alguns poucos minutos a cada dia. E então talvez concluamos que o tempo – nosso tempo – é um dos maiores presentes que podemos dar.

Quem sabe ainda se a palavra "presente", em sua origem já esquecida, não quisesse expressar tão-somente que aquilo de mais importante que se pode dar é justamente a presença – seja nos momentos bons ou ruins. Sim, fazer-se presente também é um dos melhores presentes.

E, se a presença não for possível, ainda resta a lembrança. Basta um telefonema. Um e-mail. Ou uma mensagem. Para os amigos próximos. Mas principalmente para os distantes – aqueles que, em algum momento da jornada, tomaram outro rumo na estrada. Sim, lembrar é outro grande presente. Afinal, não trocamos "lembrancinhas" nas festas? Não seria o objeto que presenteamos apenas um subterfúgio para dizermos: "Lembrei de você"?

Então, lembremo-nos disto: já que nem sempre costumamos ser tão atenciosos e presentes, quem sabe se neste Natal este não possa ser nosso presente – a lembrança, a presença, o tempo.

Mas não nos esqueçamos também de lembrar de nós mesmos. Lembrar de parar de vez em quando. Porque toda jornada merece descanso. Lembrar de que caminhar é preciso. Mas que parar é essencial. Parar e reparar. Reparar nossos passos. Reparar o rumo que estamos tomando.

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