A Copa do Mundo costuma ser, para os brasileiros, a máxima expressão do amor à pátria. É fácil entender a razão. O futebol foi uma das primeiras atividades em que o país se destacou internacionalmente. Como dizia Nelson Rodrigues, o Brasil venceu o complexo de vira-latas com o título de 1958, na Suécia. Mostrou ao exterior que tem valor. Mas há algo de novo no ar que se materializou muito em função deste Mundial de 2014: um novo patriotismo, que se mistura ao antigo e que também é voltado para dentro e não apenas para fora. Não se quer tão-somente ser bom diante dos outros, do estrangeiro. A população já expressa de forma mais contundente um desejo de luta pela excelência interna.

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Historicamente, o patriotismo costuma se expressar como uma espécie de "defesa" em relação a uma ameaça externa, real ou imaginária. Os semelhantes se unem para se defender contra o forasteiro, o diferente, o adversário. Isso ocorre nas guerras e nas competições esportivas. O militarismo e o nacionalismo são manifestações desse sentimento. Desfiles cívico-militares, como os do 7 de Setembro, e a euforia com os jogos da seleção nas copas materializam o fenômeno. É natural que em países sem histórico de conflitos bélicos, como o Brasil, o esporte que mais dá alegrias à população esteja no centro das atenções.

Mas faz algum tempo que há um vento de mudança no jeito como o brasileiro pensa sobre o patriotismo. Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, divulgado pela Gazeta do Povo em setembro de 2009, mostrava que 59% dos curitibanos acreditavam que o civismo é a defesa do interesse público. Outros 20% disseram ser a veneração dos símbolos nacionais (a bandeira, o hino etc.); e 13% citaram a valorização dos talentos nacionais nos esportes e nas artes.

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As jornadas de junho do ano passado transformaram aquele vento em um vendaval. E tornaram absolutamente explícito que a população quer mais do que uma Copa ou vitórias esportivas. Está interessada também em construir um país melhor – com mais segurança, educação e saúde de padrão Fifa. É um patriotismo voltado para dentro, para enfrentar um "adversário" interno: as mazelas nacionais.

O vandalismo dos black blocs afastou o povo das ruas – o que pode ser observado pelos protestos isolados, embora violentos, que eles estão promovendo durante esta Copa. Mas o sentimento de que a pátria não calça apenas chuteiras veio para ficar. Ainda que isso não signifique deixar de torcer pela seleção.

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