A foto principal da capa de ontem da Gazeta do Povo, reproduzida ao lado, é emblemática. Indica que parte da juventude brasileira cultiva velhos vícios mesmo pensando estar na vanguarda. Na imagem, um estudante encapuzado, ocupante da Reitoria da UFPR, aparece na porta do prédio, na qual se vê afixado um cartaz em que o comando do movimento pede para que ninguém fotografe ou grave vídeos dentro do edifício tomado por universitários. Já a reportagem informava que estavam autorizadas a entrar na Reitoria somente pessoas que apoiassem a manifestação, cujo objetivo é reivindicar melhorias na educação superior.
A imagem e as circunstâncias trazem pistas valiosas para entender por que persistem alguns dos principais dramas do país: a falta de cultura democrática e de transparência.
O capuz que encobre o rosto do universitário sugere que ele não pretende ser identificado. A restrição a fotos e vídeos revela o temor de que alguém de fora saiba o que se passa dentro do prédio. A proibição da entrada na Reitoria de pessoas que discordem do protesto sugere pouca disposição para conviver com a diferença de opinião. E pode ser interpretada ainda como uma espécie de privatização temporária de um espaço público, tomado por um grupo que exclui os demais.
Ainda que a foto seja um recorte muitíssimo parcial da realidade e não necessariamente represente o movimento como um todo, a imagem deixa um alerta à juventude. Nela estão vários elementos do atraso nacional: a apropriação privada de bens coletivos; a tentação de não assumir responsabilidade pelos atos; a pouca transparência no trato com a coisa pública; a dificuldade de aceitar o contraditório.
As reivindicações estudantis são legítimas. Mas o método para se obter o que se pleiteia faz toda a diferença. Afinal, os universitários de hoje vão comandar o país daqui a 20, 30 anos. A se perpetuar esse comportamento com pendores pouco democráticos, a política brasileira continuará a ser um eterno foco de problemas.