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Pode parecer um contrassenso elogiar a velhice num mundo em que a juventude e seus símbolos são celebrados quase que à exaustão – na propaganda, nas artes, no entretenimento, no estilo de vida. Mas foi o que o papa Francisco fez na última sexta-feira – do alto de seus 76 anos. "A velhice, gosto de o dizer assim, é a sede da sabedoria da vida. Os velhos têm a sabedoria de ter caminhado na vida", observou o pontífice, instando os mais experientes a ensinar os jovens. Ele lembrou ainda que os bons vinhos se tornam melhores com o tempo.

O papa retomou uma tradição civilizatória que permeia toda a história da humanidade, independentemente da crença religiosa. Desde os tempos imemoriais, o saber dos mais velhos costuma ser referência basilar das sociedades humanas. Os "conselhos de anciãos" – que tomavam decisões e arbitravam disputas – estão na gênese dos sistemas modernos de governo e justiça. Foi a aposta na experiência e na serenidade de quem já viu passar muitas primaveras.

Só muito recentemente é que a juventude roubou o posto da velhice e da maturidade no ideário de vida. "Não confie em ninguém com mais de 30", bradaram os revolucionários da contracultura dos anos 60. Era uma reação à falta de espaço dos jovens daquela época.

Eles conquistaram mais que seu lugar ao sol. Hoje são o espelho para o qual adultos e idosos se voltam. Todos anseiam, em maior ou menor grau, pela juventude que perderam. E isso não se restringe à aparência – o que se revela, por exemplo, no crescimento vertiginoso do mercado de tratamentos estéticos e de cirurgias plásticas. Características típicas dos jovens contemporâneos – pressa, impaciência, rebeldia e um quê de irresponsabilidade – também são incorporadas cada vez mais frequentemente como comportamentos aceitáveis por toda a sociedade. E valores da maturidade – temperança, prudência, ponderação – caem em desuso.

Mas uma revolução grisalha pode estar, silenciosamente, a caminho. Em algumas décadas, a pirâmide etária tende a se inverter e a população idosa deverá superar o contingente de jovens. Será essa nova maioria que o mercado e seu principal instrumento – a publicidade – vai priorizar. E então os velhos não precisarão mais se envergonhar de serem experientes.

Porém, resta saber se jovens e adultos de hoje, inebriados que estão no sonho da puberdade permanente, não vão repetir na velhice os vícios da pouca idade.

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