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Fernando Martins

Ocupe já

Na natureza existe uma máxima: não há espaço desocupado. Um copo vazio, ainda que não se possa ver, está cheio de ar. Nas grandes cidades acontece algo semelhante com os lugares públicos. Quando a comunidade deixa de usá-los ou há negligência das autoridades responsáveis, eles são reocupados – rotineiramente de forma indesejada. Ocorre, então, a inevitável degradação.

Os centros das cidades são vítimas frequentes desse processo. E Curitiba não escapou disso – ao menos parte da região central. São respostas ao fenômeno o projeto de revitalização da Rua Riachuelo – outrora elegante boulevard da capital – e o recente movimento pró-Passeio Público, ponto de encontro histórico, hoje esquecido pelos curitibanos. Se há algo a se recuperar, é porque se deteriorou.

Sobre o Passeio, diz-se que ficou para as meretrizes quando os frequentadores tradicionais passaram a se dirigir a outros espaços de lazer, sobretudo aos shoppings que pipocaram em Curitiba a partir dos anos 80. Mas é difícil dizer o que veio antes: a debandada da classe média, que atraiu as damas da noite para o espaço; ou a chegada delas sem a devida resistência do poder público, o que acabou resultando no afastamento da população. De qualquer modo, é consenso entre os urbanistas que nada se revitaliza se não for reocupado pela comunidade.

Menos evidente é a constatação de que o fenômeno da degradação de espaços coletivos, motivada pela "fuga" dos frequentadores, também se verifica nas instituições e serviços públicos.

A escola pública foi referência de educação até a década de 70. Era frequentada por todos, inclusive por filhos da classe média. Há quem defenda a tese de que a qualidade dela caiu quando as famílias remediadas e abastadas passaram a procurar os colégios particulares para suas crianças. Sem a cobrança do segmento social mais informado e conscientizado de seus direitos, o nível educacional caiu.

Na saúde pública, a mesma analogia pode ser feita. Serviços que são universais, como as campanhas de vacinação, funcionam porque todos se beneficiam. Se alguma falha ocorre, sempre há quem saiba a quem recorrer para denunciar as irregularidades e, assim, resolver o problema. Mas o atendimento básico em geral é deficiente porque parcela expressiva da população opta pelos planos privados e porque as próprias autoridades não o utilizam.

O mesmo ocorre na política. Cansados da corrupção, cidadãos respeitáveis desistem da vida pública e boas pessoas nem pensam em se candidatar. Com as devidas exceções, sobram os que estão por aí.

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