“O futebol é como a vida: um dia ganha; outro perde.” Chamou-me a atenção a frase. Resume reportagem do domingo passado desta Gazeta do Povo sobre como o esporte é usado pelo Hospital Pequeno Príncipe na recuperação de pacientes. É a constatação de Edicleia, mãe da jovem Fabiele Vitória Fortes, 14 anos, sobre a postura da garota diante da vida (e da doença) – ela está internada para se tratar de uma rara patologia que afeta as articulações e órgãos internos. Mesmo diante das atribulações da doença, a adolescente tem esperança. Sabe que nem toda dor dura para sempre. Que às frustrações seguem-se as alegrias. Basta jogar (ou viver).
Não a conheço, Edicleia. Tampouco, você, Fabiele. Mas tomo a liberdade de pôr um pouquinho de fermento nessa ideia. O futebol é feito de vitórias, derrotas e também de empates. Mas esse é tão somente o resultado. O principal – e costumamos nos esquecer disso – é o jogo em si.
Quando o placar não tem relevância, é porque jogamos por prazer, para brincar com amigos. Precisamos desses momentos. Se o resultado tem importância, contudo, o jogo é luta. E, por estranho que possa parecer, a luta muitas vezes é maior que a vitória. Mas só aprendemos isso com o tempo, Fabiele.
Se o resultado tem importância, o jogo é luta. E, por estranho que possa parecer, a luta muitas vezes é maior que a vitória
Eu levei um ano inteiro. Tinha pouco menos que sua idade. Como quase todo guri, era louco por jogar bola. O colégio em que estudava, o Medianeira, promovia (acho que ainda promove) uma olimpíada todos os anos. Sempre sonhei em ser campeão no futebol. O time da turma em que eu estava nunca havia chegado nem perto disso. Torneio após torneio.
Até que veio a minha inesquecível 6.ª série C. Aquela era uma turma improvável para ser campeã. Nosso time estava longe de ser favorito. Mas, na olimpíada daquele ano, nos transformamos. Vencemos os melhores. Empatamos com os piores. E assim, aos trancos e barrancos – mas com muitíssimo esforço –, nos superamos e chegamos à final.
Jogamos bem aquele jogo. Acho que fomos melhores que os adversários. Vencíamos quase até o finzinho. Mas então um jogador deles acertou um chute do meio do campo, de uma bola dividida que sobrou quicando à sua frente. Nunca mais ele fez algo parecido. Certeza. Ainda lembro da trajetória da bola passando no alto, sobre todos, e indo parar no ângulo esquerdo do Bogdan – o goleiro do nosso time. Ele pulou. Mas não havia nada a ser feito. Eles empataram. Veio a prorrogação. Sem gols. E perdemos nos pênaltis. Foi duro. Doeu. Muito.
Um ano depois, eu estava de novo em campo. Desta vez, o time da minha turma era tão bom que vencer foi quase natural. Fomos campeões da olimpíada sem tanto esforço quanto para ser vice 12 meses antes. Fiquei feliz, realizado. Mas a alegria foi efêmera. O curioso é que a satisfação de ter lutado e dado o melhor de mim na 6.ª série dura muito mais tempo. Até hoje. É um prazer que vem aos poucos, em doses homeopáticas. Mas sempre está lá. Lutar é, afinal, uma forma de vitória – mesmo nas derrotas.
Talvez você já saiba disso, Fabiele. Se ainda não descobriu, deixe que o tempo lhe ensine.
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